Barbeiro-cirurgião: o médico dos pobres.
Cinco dias gelados depois do enterro do seu pai um estranho bateu na porta.
-- Você é o jovem Cole?
Fez que sim com a cabeça, desconfiado, o coração aos saltos.
-- Meu nome é Croft. Fui mandado por um homem chamado Richard Bukerel, que conheci quando estava bebendo na Taverna Bardwell.
Rob viu um homem nem jovem nem velho, grande e gordo e o rosto, castigado pelas interpéries, emoldurado pelos cabelos longos dos homens livres, uma barba crespa e redonda da mesma cor avermelhada.
-- Qual é o seu nome todo?
-- Robert Jeremy Cole, senhor?
-- Idade?
-- Nove anos.
-- Sou barbeiro-cirurgião e procuro um aprendiz. Sabe o que faz um barbeiro-cirurgião, jovem Cole?
-- O senhor é uma espécie de médico?
-- O homem sorriu.
Apesar de tanto sofrimento e de tão pouco conhecimento de doenças causadas pelos gases mau-cheirosos (até o fim do século XIX, acreditava-se que muitas doenças contagiosas eram transmitidas por causa do cheiro ruim, mas hoje se sabe que são causadas por microorganismos presentes no ar, água ou alimentos) ter um tratamento de um médico nessa época era coisa para gente rica e de posses. A população pobre poderia rezar e esperar pelo pior. Entretanto, de cidade em cidade, apresentando ora números de mágica e encantando a plateia e ora vendendo produtos de origem duvidosa estava o barbeiro-cirurgião. Amenizando febres e algumas dores, o barbeiro-cirurgião também fazia barba e cabelo das pessoas e fazia pequenas cirurgias, como retirar um dedo quebrado ou amassado pelas atividades rurais.
Entretanto, essa profissão ficou sem uma sociedade desde 1540 quando na Inglaterra a Sociedade dos Cirurgiões (não eram considerados médicos na época) se fundiu com a Companhia dos Barbeiros e formaram a Companhia dos Barbeiros-Cirurgiões. Em meados do século XVIII a pressão dos médicos fez com a Companhia se desfazesse. O tradicional poste dos barbeiros (vermelho e branco) seria um resquício dessa época.
O barbeiro-cirurgião popularizou a imagem do médico que imaginamos da Idade Média que realizava sangrias e administrava medicamentos um tanto estranhos como fezes de ganso ou metais pesados. Para quem não podia pagar pelo um médico, a chegada do barbeiro-cirurgião nas vilas era um alívio para os doentes que tinham uma esperança de ter seus males curados e não apenas depender da vontade divina.
P.s.: o livro ‘O Físico’ gerou algumas discussões sobre a tradução do título, onde Karl, do Ecce Medicus explica o que pode ter acontecido.
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