Precisamos ser velas!
"Ciências acima de tudo, educação acima de todos". Cartaz durante manifestação pela educação em Bauru, SP. |
Os últimos anos têm sido difíceis para a educação e para a ciência nacional. Cortes e restrições orçamentárias cada vez mais violentas tem tornado cada vez mais difícil ensinar e aprender no Brasil. O ano de 2019 mostrou que o ruim poderia ficar pior. Alegando queda na arrecadação, a educação no Brasil sofreu uma contingenciamento que, somado aos sucessivos cortes anteriores, tem tornado a prática de fazer ciência no Brasil insustentável.
O Ministério da Educação (MEC) repassou um corte de cerca de 30% para as universidades, restringindo os valores para pagamentos como água, energia e pesquisa. Somado a isso, houve corte no número de bolsas CAPES de todos os programas de pós-graduação do país. As bolsas, que aguardavam ser transferidas para novos alunos que entravam no mundo da pós-graduação, foram congeladas e não podiam ser passadas para frente. Com isso, muitos pesquisadores e novos cientistas encontraram mais um obstáculo, o financeiro pessoal, como limitador para a formação de novas mentes[1].
Clamando por maior visibilidade e apontando para o erro em não investir na ciência e educação, dia 15 de maio de 2019 foi realizado uma manifestação nacional em prol da educação e da ciência. Em mais de 100 cidades de todos os estados brasileiros, alunos, professores, pesquisadores e todos aqueles que sabem da importância da ciência e educação foram às ruas.
Em Bauru, interior de São Paulo, onde desenvolvo meu doutorado, milhares de estudantes (estimativa de 10 mil) do ensino médio e das duas universidades públicas estaduais (USP e UNESP) foram às ruas centrais da cidade, somado à professores e outras categorias. Acompanhei brevemente a concentração e os primeiros movimentos dos manifestantes, o que trouxe um breve lampejo de esperança, sabendo que ainda há pessoas que acreditam na importância da educação em nossos dias.
Ao contrário do que disse o presidente Jair Bolsonaro, o qual chamou os manifestantes de 'idiotas úteis' e 'massa de manobra', a manifestação a favor da educação mostra justamente que é preciso mais desses movimentos para mostrar, tanto à população como ao próprio presidente, a importância da educação tanto para o nosso dia-a-dia, como para a formação das pessoas como cidadãos em uma sociedade em constante mudança.
"Em defesa da ciência, o caminho contra a alienação #15demaio", cartaz na manifestação pela educação em Bauru. |
Cortar investimentos em ciência e educação é colocar as pessoas à mercê de aceitarem vozes de autoridade sem questionamento, de voltarmos a acreditar em coisas tão pífias como terra plana ou que vacinas fazem mal[2]. De passarmos a aceitar que o código de Hamurabi[3] deveria voltar a ser aplicado em nossa sociedade. Até mesmo de acharmos que existem pessoas mais iguais a outras pessoas[4]. Só a educação e o conhecimento permitem abrir nossas mentes e vermos que o mundo pode ser muito mais estranho e maravilhoso do que querem mostrar para gente.
Precisamos ser cada vez mais as velas que iluminam os cantos escuros da ignorância e do misticismo. Só o conhecimento pode nos mostrar o brilhante futuro que podemos ver à frente.
Cartazes em protesto contra os cortes e restrições no orçamento para a educação e ciência. |
"Não fazemos balbúrdia, fazemos ciência" |
"Eu luto pela pesquisa" |
Rodapé:
[1]: sem contar que as bolsas não sofrem reajuste há mais de cinco anos, sendo mantidas, até o momento, com 1,8 mil e 2,2 mil reais para pós-graduando em mestrado e doutorado, respectivamente.
[2]: esses movimentos, que crescem a cada dia, mostram em como estamos voltando no tempo.
[3]: a famosa máxima 'olho por olho, dente por dente'.
[4]: recomendo o excelente 'A Revolução dos Bichos', de George Orwell.
Informações:
Com notícia de G1 e sobre Bauru também. Imagens feitas por mim, protegidas por CC. Se você se reconheceu ou reconheceu alguém nas fotos, entre em contato.