Ctrl+C e Ctrl+V de neurônios…

 

Uma criança desconcertada... não, é peralta mesmo...

Pindamonhangaba. Acho que todo mundo já viu uma criança meio desconcertada e demorando para falar certo o complicado nome da cidade brasileira. Ela fica prestando atenção na pessoa que diz a frase e depois de algumas tentativas ela fala quase que perfeitamente. A dança segue o mesmo caminho: mesmo não sabendo nada de dança (meu caso) ao ver alguém dançando parece que do nada entendemos como é os passos mais básicos. Ver alguém comendo aquele doce delicioso (leia-se seu doce favorito, seja brigadeiro, bolo, mousse, etc…) imediatamente sentimos nossa boca se encher d’água e aquela vontade de comer a mesma coisa! E quando vemos uma pessoa chorando nós nos colocamos em sua posição e tentamos ser solidários em amenizar o sentimento que a está deixando entristecida.

“Coitado, endoidou”. Você deve estar pensando de mim. Afinal de contas, o que falar nomes complicados, saber dançar, comer doces e sermos solidários com outras pessoas tem a ver com o título do post? Ora meu filho, tudo! Tudo começou em 1996 quando Rizzolatti e sua equipe divulgaram um estudo mostrando que o áreas do cérebro do macaco rhesus que ficavam ativos durante uma determinada ação (como apanhar uma fruta) também ficavam ativos quando via alguém (macaco ou humano) realizar a mesma ação. Estudos posteriores mostraram que isso se repetia quando o pesquisador realizava expressões faciais na frente do macaco ou algum som específico. A descoberta do hoje chamado neurônios espelho ajudam a explicar o complicado comportamento não apenas de outros animais, mas também o nosso.

A técnica do copiar e “colar” o que vemos é tão antigo quanto o Windows e a Wikipedia. Acredita-se que os neurônios espelho sejam responsáveis pela origem da linguagem humana e do complexo comportamento de nossa sociedade. Para que a cultura sobrevivesse seria necessário que as gerações seguintes repetissem os rituais e demais características culturais daquele sociedade, como a linguagem por exemplo, para que ela continuasse viva. Com os mais novos vendo os mais velhos realizando essas tarefas, os neurônios espelhos ajudariam a trazer para o observador o meio de fazer observando o outro. Seria como se você se colocasse no lugar do seu professor de dança para aprender determinado passo. Os neurônios espelhos seriam os responsáveis para que as coisas ficasse mais “entendíveis”. O mesmo vale para se solidarizar com o sentimento de alguém que perdeu um filho, por exemplo. Os neurônios espelho estariam participando ativamente já que a pessoa que vê a cena se transporta para a pessoa que sofre e compartilha da dor. A empatia é uma coisa muito importante para a ascensão da sociedade humana. Além disso, os neurônios espelho estariam participando da interação social já que refletem comportamentos da linguagem não verbal como franzinos e outras expressões que seriam interpretadas pelo observador para saber o que a outra pessoa está pensando ou sentindo.

Alguns consideram que os neurônios espelho são tão importantes para a espécie humana que problemas neles estariam relacionados a problemas de relacionamento com outras pessoas e dificuldades de linguagem. Esses são sintomas característicos de pessoas com espectro autista. Embora seja uma teoria interessante e que deve ser investigada mais a fundo a relação dos neurônios espelho na formação do complicado processo de linguagem e de interação social entre humanos é sustentado por várias pesquisas. Falhas dessa interação do cérebro com o meio onde vive poderia resultar numa pessoa que não conseguiria interagir direito com as pessoas e o processo de aprender a se comunicar estaria comprometido.

O que somos hoje é o resultado de milhões de cópias de ações, atitudes e outros comportamentos que aprendemos com nossos antepassados. Vale lembrar que os neurônios espelhos não são exclusivos dos humanos e que diversos outros animais possuem. Agora, só porque nosso cérebro se deu tão bem com essas cópias e colas da vida que você vai dar essa desculpinha ao entregar à professora o trabalho Ctrl+C e Ctrl+V de sites da internet. Essa não cola mais não…

Achei no TED uma palestra ministrada pelo neurocientista V. S. Ramachandran (particularmente acho incrível esse cara) dando uma explicação rápida sobre neurônios espelho. Para ativar a legenda, clique em ‘View subtitle’.

 

Com informações de:
Lameira, A., Gawryszewski, L. & Pereira Jr., A. (2006). Neurônios espelho. Psicologia USP, 17 (4), 123-133.
Ramachandran, V. S. & Oberman, L. (2006). Broken mirrors. Scientific American, 55, 53-59.
Vídeo por TED.

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