Ciência é...


Num domingo à noite qualquer, estava eu olhando para a paisagem noturna que entrava por minha janela. Então, aparentemente sem nexo, me perguntei o que é Ciência. As vezes quando eu penso num assunto eu começo a andar de um lado a outro. Meu apartamento de estudante não é lá grande coisa (em todos os sentidos) e, portanto, volta e meia eu retornava para a janela.

Talvez o que eu chamo de Ciência mude com o tempo. Daqui a cinco, sete anos eu tenha um conceito diferente do que é Ciência pois, a cada dia que passa, o conhecimento científico muda. Esse conhecimento mutável talvez seja uma das características mais marcantes da Ciência. A palavra ciência vem do latim, scientia, que significa conhecimento. Olhando para cima vi os inúmeros pontinhos brilhando. Sabia que aquilo não eram animais brilhantes distantes, ou povos com suas fogueiras que acendiam à noite[1] ou ainda divindades ou seres totalmente desconhecidos. Aqueles pontos brilhantes são, na verdade, sóis gigantes e distantes que emanam luz. Essa luz atravessa milhares e milhares de anos-luz[2] de distância no espaço e encontram a atmosfera da Terra e chegam até à minha retina, onde meu cérebro, depois de processar, me diz que é uma estrela[3].

A Ciência me ajuda a descobrir e a entender isso.

Olhando para os mesmos pontos brilhantes, sei que a luz que essas estralas, esses sóis distantes emanam não é feita por mágica. Em seu interior, onde a pressão e temperatura são altas, a matéria que essa estrela é composta se junta e nesse processo ocorre liberação de energia em forma de luz e calor[4]. O mesmo que ocorre com nosso Sol, ocorre nesses distantes pontos brilhantes.

A Ciência me ajuda a descobrir isso.

E essas estrelas estão brilhando desde quando? E ficarão assim para sempre? Pontos distantes brilhando eternamente no véu escuro do Universo? As estrelas nascem e morrem. Quando nescem, elas são feitas basicamente de uma única coisa, um único elemento – mais leve da natureza. Esse elemento vai, aos poucos, se transformando em outros, cada vez menos leves. Quando a estrela estiver no fim de sua vida, ela estará pesada, feita praticamente de elementos mais pesados. Como o peso é enorme ela acaba explodindo. Nessa explosão podem ocorrem a formação de elementos ainda mais pesados que são jogados em todas as direções do espaço. Esses pedaços de matéria jogados podem, no futuro, ajudar a construir um novo lugar. Talvez um novo planeta[5]. Estrelas morreram no passado e ajudaram a construir o que hoje chamamos de nossa casa: a Terra.

A Ciência me ajuda a ver isso.

Quer dizer que a Terra não existiu para sempre? Isso significa que todas as formas de vida também não!? A vida não é imutável. Há muito – muito, muito, muito – tempo, começaram a aparecer as primeiras bolinhas que conseguiam se virar sozinhas nos mares antigos[6]. Com o passar do tempo, essas bolinhas foram ficando cada vez mais complexas. Hoje, as pessoas, os nossos animais de estimação e nossas plantinhas queridas são a união de bilhões de bolinhas que fazem as coisas funcionarem certo (na maioria das vezes). Essas bolinhas que me compõem foram feitas usando o material que estava aqui na Terra. E, por sua vez, a Terra foi feita de material vindo das estrelas distantes, que brilham e mandam sua luz para todos os lados e uma pequeníssima parte dessa luz acaba entrando nos olhos de alguém que olha para cima.

A Ciência é isso.

A Ciência nos ajuda a ver a natureza com outros olhos.

Informações extras:

[1]: Carl Sagan em sua série de TV Cosmos, dá uma sugestão do que os povos antigos pensariam sobre as estrelas que aparecem apenas à noite. Para ele, assim como os povos nômades acendiam fogueiras à noite para romper a escuridão, os “povos” acima de suas cabeças fariam o mesmo. Talvez, por nunca caírem dos céus, esses “povos” teriam poderes incríveis, praticamente divindades.

[2]: o ano-luz é uma unidade de medida de espaço e não de tempo. Significa que a luz demora um terminado tempo para percorrer um determinado espaço. A sua velocidade é de aproximadamente 300 mil quilômetros por segundo, o que significa que, a cada um segundo, a luz percorre 300 mil quilômetros. Em um ano (que tem 31.536.000 segundos), a luz percorria pouco mais de 9,5 trilhões de quilômetros. O ano-luz é isso. Ou seja, a distância de 30 mil anos-luz de nós até o centro da Via Láctea é, na verdade, 9.500.000.000.000 × 30.000. Nem preciso fazer a conta para mostrar que a distância é enorme.

[3]: nós olhamos para cima e vemos apenas pontinhos brilhando, pois nossos olhos evoluíram para perceber apenas uma curta faixa do espectro eletromagnético, que é a luz visível. Observando o Universo em outras frequências (como o infravermelho, por exemplo) podemos ver muito mais coisas (no sentido de observar padrões diferentes do que veríamos apenas com a visão normal).

[4]: tratei desse assunto sobre como é produzida a luz das estrelas, aqui.

[5]: também falei sobre esse assunto com mais detalhes nesse outro post.

[6]: o surgimento da vida na Terra exigiria um post longo para explicar o que sabemos e o que ainda precisamos saber sobre o assunto. Acredita-se que as primeiras formas de vida surgiram cerca de 3,5 bilhões de anos atrás. Eram seres parecidos que as bactérias atuais. Esses seres foram, ao longo dos milhões de anos, se modificando gradualmente, até que – baseado nos registros fósseis – cerca de 570 milhões de anos atrás ocorreu o que chamamos de ‘Explosão do Cambriano’, onde inúmeros invertebrados e depois vertebrados começaram a aparecer entre as camadas de rocha. Talvez – e bem provável – que a vida multicelular (organismos compostos por mais de uma célula) tenha surgido antes. Acontece que possivelmente esses animais não tivessem uma casca ou algo que fossilize mais rápido sendo constituídos apenas de tecido mole, o que compromete o trabalho dos pesquisadores.

Imagem disponível em NASA. Clique aqui para ver uma versão maior com informações extras.

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