Brânquias, maxilas e audição - parte 2
Bem-vindo à segunda parte do post sobre brânquias, maxilas e audição. Para quem chegou agora, recomendo que visite o primeiro post da série para se inteirar da história toda.
Calma... vamos lá: a Sistemática Filogenética ou Cladística é um outro sistema de classificação desenvolvido em meados do século passado pelo biólogo alemão Willi Hennig. Para essa classificação, as espécies são organizadas de acordo com algum ancestral comum mais recente[1]. Além disso, as espécies são organizadas geralmente baseadas em suas novidades evolutivas, ou seja, alguma característica (seja morfológica, bioquímica ou qualquer outra) que a distingue de outra espécie. No caso, a Taxonomia Evolutiva colocava as lampreias e as fenticeiras em um grupo por algo que elas não tinham - a maxila - em relação às espécies que possuem as maxilas (demais vertebrados). Diversas características separam fenticeiras e lampreias: enquanto fenticeiras são exclusivamente marinhas, se alimentam de animais mortos, não possuem cerebelo[2] e nem fase larval, as lampreias nascem (algumas espécies) em água doce, onde passam a grande parte de sua vida na forma larval[3] e quando adultas migram para o mar, onde parasitam. Além disso, possuem todas as partes do encéfalo.
Mas então quais são as características que faz com que as lampreias fiquem mais próximas dos demais maxilados do que com as fenticeiras? As lampreias apresentam, diferentemente das fenticeiras, pequenas estruturas cartilagíneas acima da nervo dorsal denominadas arcuálias. Elas seriam o que chamamos de vértebra (nesse caso, um princípio de coluna vertebral). Além disso, as lampreias possuem um crânio (cartilaginoso) que protege o encéfalo, enquanto as fenticeiras possui um crânio incompleto e o encéfalo é coberto por uma bainha fibrosa.
Para a Sistemática Filogenética, o cladograma que relaciona as fenticeiras e lampreias seria esse:
Informações adicionais:
[1]: o nome específico nesse caso é de monofiletismo. Não entrarei em detalhes, já que não quero povoar o texto com mais palavras pouco usuais, mas o grupo citado antes, os Agnatha, não constituem um grupo monofilético, ou seja, não possuem um ancestral comum mais recente e, portanto, não são formalmente aceitos como um grupo válido. Répteis também não constituem um grupo monofilético já que, geralmente excluímos as aves, que estão inseridas no grupo dos "répteis". Até mesmo os peixes não são um grupo monofilético visto que excluímos um ramo que representa todos os animais que dominaram o meio terrestre - no caso os Tetrapoda. Quando consideramos apenas alguns grupos dentro de um grupo maior com um ancestral comum mais recente, damos o nome de parafiletismo.
[2]: o cerebelo é a parte mais posterior do encéfalo. Ele é responsável pelos movimentos involuntários para o equilíbrio do animal.
[3]: a lampreia pode passar cerca de três a sete anos na forma larval. A medida que vai descendo o leito do rio, o animal sofre uma metamorfose, se transformando na lampreia adulta onde parasita geralmente peixes no mar por cerca de dois anos. Na fase reprodutiva elas sobem os rios e depositam seu material genético no leito. Feito isso, o animal morre. O mais interessante é que o animal passa tanto tempo de sua vida na forma larval que os pesquisadores, no começo do século XX achavam que fossem espécies totalmente diferentes, muito próxima do anfioxo (um animal com características mais básicas do grupo dos Chordata, onde estamos inseridos). Até hoje a larva recebe o nome que era dado a ela no passado: Amocete.
Referências no final da série de posts.
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