9 Meses - post 27

Faltam apenas alguns dias para Ana experimentar a
vivência da maternidade. Ana está pensando
se será uma boa mãe...

Quase pronta!
Segunda-feira. A casa estava vazia. O que se ouvia, ás vezes, era o barulho do lençol sendo movido quando uma mulher barriguda se virava para lá e para cá na cama. Estava dormindo. Em uma escrivaninha próxima era possível ver um papel do setor de RH de uma empresa de biotecnologia dizendo que a mulher poderia tirar a licença-maternidade. Ana gozava de vários anos na empresa, ganhando respeito e admiração pelos colegas de trabalho e seus superiores. Hoje, quando Ana pedia algo, certamente era atendida. Mesmo com a previsão de dar luz sua filha apenas daqui a alguns dias, ela conseguiu uns dias extras de descanso para estar à sós com sua gravidez.

Era quase 10 horas da manhã e Ana estava ora dormindo e ora acordada na cama. Estava pensando sobre o que acontecerá daqui a alguns dias. "Será que vai doer muito?". "Eu sei que existe a cesária e que posso ter minha menina com nenhuma dor mas... isso não é o mais saudável.". "Agora que estou me acostumando com minha barrigona ela vai sumir.". "Será que ela vai ter a cara do pai ou minha?". Ana não parava de pensar. Enquanto pensava, passava a mão em sua filha, distante apenas algumas camadas de músculos e tecidos de suas mãos. Em algumas questões, Ana sentia um frio na barriga, como se duvidasse de si mesma se seria capaz de tal ato. "Serei uma boa mãe?"

Ana se questionava profundamente sobre isso.

Depois de ficar pensando nisso tudo, Ana resolveu, de fato, levantar. O relógio já apontava quase 10h30 e ela nada havia feito. Ela queria aproveitar esses dias mais tranquilos para continuar a fazer sua revisão de um tema que julgava ser necessário em sua área e publicá-lo ainda esse ano. Ela estava bastante adiantada pois aproveitava os momentos em casa e os mais calmos no trabalho para fazê-lo e estava bastante esperançosa. Após realizar suas tarefas higiênicas, encontrou um bilhete do marido, Carlos, na bancada na cozinha:

Amor, fiz um suco de laranja para você. Está na geladeira. Está sem açúcar, do jeito que você gosta. Um beijo!

Ana resolveu cheirar o bilhete. Estava com a assinatura personalizada de Carlos. Uma borrifada do perfume que Ana amava. Podia parecer bobeira para os olhos de outros mas Ana amava esse gesto e ficou uns bons minutos sentindo o agradável perfume antes de tomar seu suco de laranja com uma fruta que encontrou na geladeira.

Resolveu sentar um pouco frente à TV. "Se dedicar ao ócio", como costumava ouvir no trabalho. Resolveu parar em um canal que exibia desenhos animados. Não demorou muito para sua imaginação a levar para algum tempo no futuro, onde estaria sentada com sua filha vendo algum desenho bonitinho. Foi mais longe, e imaginou comprando diversos livros (coisa que amava fazer) e a permitindo fuçar em sua biblioteca particular e descobrir que existe um mundo novo e maravilhoso em cada página virada. Imaginou sua filha rodeada de papeis e lápis coloridos na sala de visitas mostrando um ursinho desenhado com os típicos traços infantis. Imaginou sua geladeira repleta de folhas seguradas por imãs com os desenhos de sua filha retratando o 'papai', a 'mamãe' e ela mesma, no meio dos dois, em um dia alegre, onde o próprio Sol despontava um enorme sorriso.

Quando se deu por conta, Ana percebeu que estava com os olhos cheios d'água e abraçando fortemente um travesseiro. Foi até o quarto da filha e pegou a primeira roupinha que achou na gaveta e ficou olhando na roupa, imaginando sua pequena ali dentro.

Pela primeira vez ela sentiu, em seu mais profundo, o que é o amor de mãe. Aquele sentimento inexplicável mas que, ao mesmo tempo, poderia ser descrito com todas as palavras conhecidas em nosso idioma.

Ana sabia que talvez não fosse a melhor mãe do mundo, mas faria de tudo para ser a melhor mãe.

Imagem por ~AWhisperOfLove em seu deviantART.

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