[videolog] Indicadores de pH

Infelizmente o laboratório não
fica assim (o tempo todo).
Já disse na postagem que fiz sobre gelo seco que ele é uma das coisas mais divertidas para se mexer quando se está em um laboratório. A minha foto que ilustra a página 'O que é?' desse blog não me deixa mentir sobre isso.

Outra coisa bastante legal de se ver em um laboratório é quando as coisas mudam de cor. Existem muitas coisas que podem mudar de cor em um laboratório, desde fitas com tinta sensível à altas temperaturas, servindo como indicador de que determinado produto sofreu ou não processo de esterilização, plásticos que mudam de cor na presença de um determinado gás e produtos que mudam de cor dependendo do pH do meio onde ele está.

O pH é sigla para potencial hidrogeniônico[1] e é um índice que indica o quão ácido ou básico (ou neutro) é determinado composto. Ele é medido pela quantidade de íons hidrogênio (H+) livres em determinada solução. Convencionou-se que o pH 7 é o pH neutro. Valores abaixo de 7 são considerados ácidos e valores acima de 7 são considerados básicos (ou alcalinos). Quanto mais próximo do zero (pH = 0), mais ácido é uma solução e quanto mais próximo do 14 (pH = 14), mas básico é a solução.

Para obter o valor correto (o mais próximo possível) do pH de uma solução, é preciso usar um pHmetro (ou medidor de pH). Entretanto, algumas vezes, não precisamos saber com exatidão o pH de tal solução e apenas uma informação grosseira já é o suficiente. Aí que entra os indicadores de pH.

Os indicadores de pH podem ser algum pó dissolvido ou fita de papel. Eles precisam conter algum composto químico que seja halocrômico, ou seja, que possua a capacidade de mudar de cor dependendo do pH da solução analisada. Esses compostos acabam interagindo com os íons H+, alterando as propriedades dos indicadores, mudando de cor.

Fiz um vídeo durante a preparação de provas bioquímicas para microbiologia[2] no laboratório onde realizo minhas atividades. Usei como indicador de pH a púrpura de bromocresol (a estrutura química se encontra ao lado)[3] e a verto dentro de um meio base. Observe que ambos os líquidos estão amarelos. O púrpura dissolvido está no béquer, em minha mão esquerda e o meio base está no erlenmeyer em minha mão direita. Podemos ver que, a medida que vou vertendo o púrpura no meio base, ele vai ficando roxo (ou púrpura).


Isso acontece pois o púrpura muda de amarelo para roxo em pH acima de 6,8. Com isso, imediatamente identificado que o meio base está de pH neutro para básico. Enquanto ele estava sozinho no béquer, ele estava amarelo, o que indica que seu pH estava abaixo de 5,2. Obviamente, se eu quisesse saber o valor exato do pH eu usaria um pHmetro. Entretanto, apenas a mudança de cor no meio quando for usá-lo já será um indicativo seguro de que ocorreu algo, no caso as bactérias digeriram o açúcar da prova bioquímica.

Um volume de 200ml (como do vídeo) rende um monte de vidrinhos para a prova bioquímica e, quando a amostra é pequena, esses vidrinhos duram bastante tempo e demora para serem feitos novamente. Ou seja, é melhor gravar e registrar tudo pois não sabe quando essas coisas divertidas podem acontecer de novo. =D

P.s.: se você acha que precisa de bastante para gerar essa cor legal, está enganado. Para esse volume de 200ml, foi usado meros 0,004g (4mg). Mesmo com a ajuda de uma boa balança de precisão, é necessário muita paciência para pesar o pó. Uma mexidinha errada na colher onde está o pó e você começa tudo de novo...

Rodapé:
[1]: não é frescura ou para deixar mais bonitinho que a escrita de pH é feito com a letra 'p' minúscula e o 'h' maiúscula. A letra 'H' da sigla representa um elemento químico, o hidrogênio, e a grafia de sua sigla deve ser feita em 'H' maiúscula.

[2]: a prova bioquímica é uma das etapas que levam a identificação das bactérias de uma amostra. A prova bioquímica são compostos por diversos açúcares onde as bactérias previamente cultivadas em meio de cultura são colocadas. Algumas bactérias digerem alguns açúcares e outros não. O meio geralmente informa se ocorreu a quebra do açúcar (a digestão) pela mudança de cor. Com isso, o cientista pode ir afunilando as possibilidades de qual bactéria pode fazer tal processo. O antibiograma costuma ser a última etapa, onde o pesquisador coloca discos contendo algum antibiótico (gentamicina, ampicilina, vancomicina, etc.) na placa com meio de cultura com as bactérias semeadas. Bactérias sensíveis a um antibiótico formam um halo ao redor do disco com o antibiótico, enquanto bactérias resistentes formam um halo pequeno ou até mesmo inexistente, crescendo ao redor do antibiótico. Com essas informações, o pesquisador pode fechar a chave de identificação e saber qual é a bactéria que ele está trabalhando.

[3]: o nome correto da púrpura de bromocresol (como se esse já fosse um nome fácil) é 4,4'-(1,1-Dióxido-3H-2,1-benzoxatiol-3,3-diil)- bis(2-bromo-6-metillfenol) e outro nome atribuído a ele é 5',5''-Dibromo-o-cresolsulfoftaleína. Então tá.

Imagem por Julious em seu deviantART. Estrutura química da púrpura foi encontrado aqui. Com informações de Wikipedia.

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