Dinossauros: árvore genealógica recebe um grande chacoalho

Análise dos ossos dos dinossauros que “modificarão livros” altera as relações entre esses animais que eram aceitas há décadas

Escrito por Sid Perkins para a Nature
Traduzido por Wesley Santos para o Do Nano ao Macro

O Tyrannosaurus rex pode ser mais próximo dos dinossauros 'pélvis de ave' do que acreditava ser até então.

A já bem estabelecida divisão dos dinossauros em espécies “pélvis de ave” incluindo o Stegosaurus e sua contraparte os animais “pélvis de lagarto” como os Brachiosaurus e Tyrannosaurus pode não ser mais válido, de acordo com um novo estudo publicado dia 22 de março de 2017 no periódico Nature. Entre as propostas de alterações para a árvore genealógica dos dinossauros, os herbívoros pescoçudos e os saurópodes gigantescos do hemisfério Sul como o Brachiosaurus já não estão mais intimamente relacionados com os terópodes bípedes e carnívoros como os T. rex, como estavam antes.

“Isto é uma mudança dos livros – se continuar desse jeito”, disse Thomas Holtz, paleontólogo de vertebrados da Universidade de Maryland em College Park. “É somente uma análise, mas é a análise”.

O novo estudo avalia o parentesco entre 74 espécies de dinossauros que constituem na árvore filogenética, na base de similaridades e diferenças em mais de 450 estruturas anatômicas, disse Matthew Baron, paleontólogo de vertebrados da Universidade de Cambridge, Reino Unido, que liderou o estudo.

Reagrupando dinossauros
A maioria das espécies de dinossauros considerados no estudo viveram nos primeiros 100 milhões de anos do reinado dos dinossauros. O mais antigo fóssil conhecido data de 243 milhões de anos, e o último dinossauro – junto com uma miríade de espécies – morreram em um evento em massa há 66 milhões de anos, deixando os pássaros como seus descendentes, depois de um asteroide chocar no mar onde atualmente é a península de Yacatán, no México.

A notável revisão de Baron e seus colegas coloca a linhagem dos terópodes pélvis de lagarto (Saurischia) no ramo que contém todos os dinossauros pélvis de ave (Ornithischia), como os Stegosaurus e Triceratops. A análise do grupo indicou que os membros de ambos os grupos principais compartilham 21 traços anatômicos, variando desde um cume distintivo em sua mandíbula superior até a fusão de alguns ossos específicos dos pés. Para esse ramo recém-criado da árvore genealógica dos dinossauros, o grupo ressuscitou um nome proposto nos anos 1870, mas que caiu em desuso – os Ornithoscelida, que significa ‘membro de ave’, do grego.

Além do passar de décadas de sabedoria aceita sobre a relação de várias linhagens de dinossauros, o novo estudo sugere que os primeiros dinossauros surgiram cerca de 247 milhões de anos atrás, um pouco antes do que se suspeitava. Eles também podem ter se originado no que é atualmente a América do Norte, antes sendo a Gondwana – a porção sul do supercontinente Pangeia – que se presume ter sido o berço dos dinossauros.

Reavaliação provocativa
Em um outro artigo publicado no Nature News & Views[1], Kevin Padian, paleontólogo de vertebrados da Universidade da Califórnia, diz que os achados do grupo de pesquisadores como uma “reavaliação original e provocativa da origem dos dinossauros e suas relações”. E devido a Baron e seus colegas terem usados métodos bem estabelecidos, ele adiciona, os resultados não podem ser deixados de lado como uma opinião ou uma mera especulação. “Esse estudo vai mandar as pessoas de volta à mesa de estudos”, ele observa em sua entrevista[2].

A tradicional árvore genealógica dos dinossauros (a primeira) dividia dos dinossauros
em duas linhagens principais, os Ornithischia (pélvis de ave) e os Saurischia
(pélvis de lagarto), junto com um grupo primitivo de dinossauros carnívoros, os
Herrerasauridae, ramificando em vários galhos na árvore dos dinossauros. Na nova
classificação proposta, os terópodes como os T. rex estariam mais próximos do ponto
de vista filogenético com os Ornithischia, como os Stegosaurus.

Hans-Dieter Sues, paleontólogo de vertebrados do Museu Nacional de História Natural do Instituto Smithsonian em Washington, EUA disse que o estudo alimentará uma discussão. “Mas tenho receio em reorganizar totalmente a árvore genealógica dos dinossauros ainda”, ele disse. Por um lado, as análises dos paleontólogos sobre as relações de espécies são muito sensíveis em relação a quais espécies consideradas, bem como quais e quantas características anatômicas foram incluídas no estudo, ele completa.

A descoberta de uma nova espécie de dinossauro ou espécimes mais completos daqueles já conhecidos podem também levar as análises futuras de volta para os arranjos mais aceitos atualmente para a árvore genealógica dos dinossauros, disse Sues. Nos últimos anos, a América do Sul trouxe uma enxurrada de novos dinossauros. E, ele adiciona, as rochas da América do Norte estabelecidas para o alvorecer dos dinossauros não foram profundamente exploradas como as rochas sul-americanas da mesma idade.

“Em muitas partes do mundo, há tanta coisa que não sabemos sobre o registro fóssil”, ele complementa.

Veja a matéria original, em inglês, aqui.

Rodapé:
[1]: ePDF disponível online para leitura (conteúdo em inglês):

[2]: quase que mudei a fala dele para essa.

Imagens obtidas na publicação original.

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