[resenha] Darwin Sem Frescura

A Teoria da Evolução, ao contrário das demais teorias científicas, é atacada constantemente pelas pessoas justamente por não compreenderem exatamente sobre como a teoria vê a vida na Terra como também por tocar em assuntos delicados demais para as pessoas, como a nossa relação com os demais animais da Terra.

Um assunto difícil de se tratar, até mesmo entre os que estão envolvidos com ele, é a Evolução[1]. A Evolução é uma teoria científica que, apesar de ter um caminhão de evidências ao seu favor, ainda encontra muita resistência entre as pessoas. Muito dessa resistência vem do fato da evolução, quando começamos a ler sobre ela, a mexer com algumas ideias pré-concebidas que temos, que adquirimos geralmente dos pais ou da sociedade. Questões como a origem da vida e da diversificação dos humanos a partir de um ramo dentro dos primatas são coisas que podem chacoalhar a visão de mundo de algumas pessoas.

Contudo, outro grande problema da evolução é que, querendo ou não, ela não é tão simples assim de entender de primeira. Como parte da ciência, ela tem seus termos e detalhezinhos cheios de complicação que pode afastar um pouco mais ainda as pessoas.

Com isso em mente, o grande Reinaldo J. Lopes (doidinho por coisas do Tolkien e da Terra-Média (e repórter divulgador de ciência, of course)) e o Pirula (sim, ele mesmo, o youtuber divulgador de ciência e de outras coisinhas mais, especialista em zoologia), se uniram para trazer um belo livro que, como o título já diz, tenta trazer as ideias e o desenvolvimento da teoria proposta por tio Darwin de uma forma mais simples de entender para o leitor.

Mas já adianto: eles não deixaram de falar de assuntos complexos e, em alguns casos, polêmicos que envolvem a evolução. Mesmo trazendo esses assuntos, o leitor não sai com a sensação de que coisas importantes foram deixadas de lado, afim de valorizar a simplicidade. Tanto é que o livro me traz a sensação de ser uma espécie de introdução aos assuntos que ele aborda, já que cada capítulo é recheado de referências a livros e artigos científicos sobre o assuntos que foram abordados, de forma a induzir o leitor a ir atrás das fontes originais e aprender mais por conta própria.

Tanto é que, a medida que lia, percebi que o livro acaba sendo uma ótima fonte de consulta rápida para algum assunto voltado para a evolução tanto por conta da facilidade de ler e entender o texto, como pelas referências que estão lá, esperando para serem consultadas. Sou biólogo, mas meu foco não é evolução. Mas como biólogo, é preciso sempre estar por dentro da evolução, já que ela permeia todo o entendimento da vida como a conhecemos[2]. Foi bom ler eles tratando sobre cladística, genética e assuntos tão complexos como homossexualidade e a evolução dos hominídeos, além de temas como extinções em massa e desenvolvimento da ética e da moral em um texto rápido e agradável de ler.

Para quem é da área de biológicas, considero o livro um bom local para atualizar seus conhecimentos em evolução e reforçar a argumentação quando o assunto vier a tona. Para não biólogos, o livro pode ser lido sem problemas, já que a linguagem acessível e a explicação constante dos termos, ajudam o leitor a não perder o fio da meada. Tanto é que, quem está mais por dentro do assunto, a linguagem simples usada pela dupla pode até parecer um tanto chata, mas não se engane: eles tiveram um puta trabalho para trazer essa simplicidade para os assuntos complexos os quais eles abordam ao longo das cerca de 240 páginas.

Se você acabou de chegar na Terra e nunca ouviu falar de evolução, ou já sabe mas quer aprender mais, recomendo fortemente aprender sem frescuras o que a evolução nos ensina sobre a vida na Terra e sobre nós mesmos.

Darwin Sem Frescuras
Pirula e Reinaldo J. Lopes
240 páginas.
Editora Harpen Collins. 2019.

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Rodapé:
[1]: já adianto que, ao contrário do senso comum, a evolução biológica nada tem a ver com a ideia de melhoria, aperfeiçoamento, ideal. A evolução nos mostra em como os organismos (seja ele quais forem) mais bem adaptados tendem, em média, sobreviver por mais tempo e ter mais descendentes que aqueles que não estão tão adaptados assim. Essas adaptações são inerentes aos indivíduos que, com o passar do tempo, se tornam mais frequentes na população (ou seja, se o indivíduo (ou grupo de indivíduos) possui alguma leve vantagem em algum mecanismo útil, a frequência dessa vantagem pode aumentar com o passar do tempo na população, se tornando comum entre eles. Facilidade em metabolizar determinado alimento ou simplesmente correr um pouquinho mais rápido já são vantagens adaptativas que podem ser fixadas na população.

[2]: e até a da vida que não conhecemos. A busca por vida alienígena é um grande desafio para os cientistas, já que a única referência de vida que temos (e olha que nem sabemos como defini-la ainda) é a que temos na Terra. Mas muitos pesquisadores concordam que a vida, independente de onde esteja ou como seja, siga a evolução darwiniana, já que os recursos na natureza são finitos e provavelmente haverá competição entre eles quando os organismos estão confinados em um espaço limitado.

Imagem que abre a postagem vista primeiro em Nautilus. Imagem interna do livro feita por mim.

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