Sonâmbulos e sonhos…

 

Sleepwalking, com a modelo Anne-lise.

Depois de um estafante dia de trabalho ou de estudos, o corpo quer apenas ter algum lugar para deitar e descansar um pouco. A noite cai e as nossas energias vão acabando. A cama nos chama irresistivelmente e temos aquele agradável sono.

Dormir é uma coisa boa e todo mundo sabe disso: passamos 1/3 da vida dormindo. Sabemos que precisamos dormir, mas ainda não temos uma resposta precisa do por quê. É que a Ciência encontrou mais de uma explicação para o sono.

Nossos olhos captam diversas informações do ambiente no qual o cérebro tem que processar e tentar entender aquilo que está vendo. Só que além disso nosso cérebro está fazendo outras coisas inconscientemente. Com as informações recebidas pelos olhos, o cérebro sabe a intensidade de luz que está no ambiente, deduzindo se está de manhã ou de noite. Isso é importante para que nosso ritmo carcadiano esteja em compasso com a rotação da Terra. Com essas informações do ambiente nosso organismo controla todo o nosso metabolismo, desde a digestão ao período de vigília (estar acordado).

Por isso que quando a noite chega, naturalmente o ritmo de atividade cai (tanto que pesquisas mostram que trabalhos noturnos rendem 20% do que os mesmos trabalhos durante o dia). Um dos responsáveis por isso é o hormônio chamado melatonina. Além de controlar o sono nos humanos ele tem a função antioxidante recuperando as células da pele expostas ao raios ultravioletas. Quando a mulher fala em “sono de beleza” não ria, realmente é verdade.

Acontece que esse hormônio é sensível a alterações do ambiente, como luzes, barulhos e cheiros. Por isso parece haver uma relação entre quanto mais movimentada a vida de uma cidade menos horas de sono esses moradores destas cidades tem. Como a luz elétrica nos livrou das amarras da natureza, podemos passar a noite em claro. E isso não é bom.

Durante o sono liberamos outro hormônio, o do crescimento. Ele auxilia na reparação de danos que acontecem dentro da gente naturalmente durante o dia. Com o metabolismo mais baixo durante o sono, o corpo tem tempo para se recuperar da vida agitada do dia.

Outro que se recupera é o cérebro. Durante o dia recebemos inúmeras informações do ambiente e o cérebro precisa lidar com tudo isso. O sono vem em resposta ao momento em que o cérebro precisa ter uma conversa com ele mesmo. Dando preferência por fatos que tiveram maior carga emocional para o indivíduo o cérebro armazena ou descarta aquilo que ele acha necessário (ou desnecessário) para o indivíduo. Lembre-se que essa ação de escolha não é consciente e muito menos inteligente. Tanto que teremos mais chances de lembrar de uma piada que nos contaram cinco anos atrás do que da matéria que o professor passou ontem. O fato é que a piada tem mais carga emocional (nos fez rir e nos divertir com quem contou a mesma) do que saber isso!

É aí que chegamos no sonho. E junto com isso, a Ciência pisa em terreno instável. A Ciência é objetiva, ou seja, ela analisa e interpreta dados e fornece uma resposta. O sonho é algo subjetivo, varia de sonhador para sonhador. Vários pensadores e cientistas tentaram explicar e entender mais sobre o sonho. Não vou entrar nesse tipo de terreno, apenas digo que dois nomes se sobressaem nesse tipo de assunto: Freud e Jung. Falarei sobre eles em um outro post. A explicação que darei aqui é a mais aceita entre os neurocientistas. Para eles, os sonhos seriam apenas as informações descentralizadas que passam no momento em que o cérebro está se organizando durante o sono. Um dos exemplos mais famosos seria do químico alemão Kukelé em que tentando descobrir a estrutura do benzeno dormiu e sonhou com cobras mordendo o próprio rabo. Quando acordou propôs que o benzeno fosse um anel hexagonal. E ele estava certo!

E porquê não agimos o que sonhamos? Porquê que quando sonho em estar correndo eu não saio desembestado da minha cama e parar lá no meio da rua? Embora seu cérebro esteja ativo e as áreas correspondentes das ações que esteja fazendo no sonho estejam ativas, você não sai fazendo as coisas do sonho pois seu cérebro bloqueia as informações antes de elas chegarem aos músculos.

Bom, acho que você deve ter percebido o que ocorre com os sonâmbulos. O cérebro não consegue bloquear as informações que estão sendo visualizadas no sonho e envia as informações para os músculos como uma ordem real e consciente. Embora 0,5 a 2,5% dos adultos tenham sonambulismo, é difícil algum caso de passeios noturnos sem estar acordado chamarem a atenção. Num caso recente um homem escalou uma montanha íngrime enquanto dormia, acordando apenas em seu topo. O mais interessante é que os bombeiros levaram mais tempo para resgatá-lo do que ele levou para subir a montanha. Tirando casos extremos, os relatos mais comuns de sonambulismo envolve em passeios sem rumo dentro do próprio quarto ou casa. Alguns se machucam como cair das escadas ou tentar pular uma janela.

Geralmente os sonâmbulos não são diferentes das outras pessoas. A única diferença é que agem aquilo que estão sonhando. Na maioria dos casos, a pessoa é acometida apenas uma vez na vida. Embora não tenha encontrado relatos, é possível que algum caso a pessoa tenha sonambulismo várias vezes por ano.

De certa forma, posso dizer que o sonâmbulo é aquela pessoa que transforma o sonho em realidade. Em tempo real.

 

Este post foi uma sugestão da minha amiga Camila, a qual adoro muito. Obrigado.

Imagem por ~Insousciance no DeviantART. Com informações do Wikipédia (1), (2), (3) e (4).
P.s.: originalmente o artigo era sobre sonambulismo mas para chegar no assunto precisava abordar antes sobre o sono e sonho. Num post futuro, abordo com mais detalhes sobre o sono e os sonhos, especialmente sobre Freud.

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