Com que roupa eu vou?

 

A Family Tree, de artista desconhecido.

Os desfiles de moda chamam a atenção de todas as pessoas. Embora seja difícil de vermos aquele monte de pano (ou a falta dele dependendo da ousadia do estilista) nas ruas o mais provável será vermos roupas “mais normais” usando um tecido ou estampa parecidos daqueles do desfile. Quando dizem que a moda dita tendências seria mais ou menos isso: as cores da nova estação ou o tipo de tecido usado na confecção.

Vestir roupas é um luxo exclusivo do ser humano. Embora exista espécies que se cobrem com folhas, com terra (ou qualquer outro sedimento), para chamar a atenção de uma potencial parceira e até bichinhos de estimação que passam pelo ridículo de “vestir” roupinhas, a espécie humana é especialista na categoria esquisitice. Mas afinal de contas, porque começamos a usar roupas?

Ok, basta olhar para você. Duvido muito que você conseguiria ficar alguns poucos minutos sem roupa nenhuma no lado de fora da casa em pleno inverno. Nossa pele não tem uma camada substancial de gordura que possa garantir a constante temperatura de 36, 37 °C dentro da gente e muito menos uma camada de pelos que faça alguma coisa útil (sim, Tony Ramos não sente mais calor do que o resto das pessoas). Para falar a verdade somos os mais pelados (no sentido de quantidade de área coberta de pelos) entre os primatas. A ideia de usarmos roupas para nos proteger do frio parece tentador. Os neandertais já usavam pele de animais para se proteger do período glacial que cobriu quase a Europa toda na época. Acontece que o ser humano moderno veio, baseado em modernas análises genéticas, do leste da África. E sabemos que a África é um continente bem quente (mesmo na era glacial). Ou seja, a ideia de que a roupa veio como um meio de nos proteger do frio faz sentido em parte, mas não no todo.

Uma outra ideia seria para esconder as partes íntimas. Mas isso também não soa muito verdadeiro pois cada civilização e cultura pensa uma coisa sobre o que deve ou não ser mostrado. Nossa visão ocidental é de que devemos cobrir as genitálias pois exibi-las publicamente é imoral. Isso está tão profundo em nossa sociedade que se despirmos uma pessoa contra sua vontade não estamos apenas tirando suas roupas, mas também sua dignidade. Mas isso é a nossa visão ocidental das coisas. Nos países islâmicos, as mulheres usam um tecido que cobre todo o corpo, incluindo a cabeça e face, no qual é chamado de burqa. Entretanto, algumas tribos sulamericanas e africanas não cobrir nada (com tecidos) é perfeitamente normal. Há registros de uma tribo africana que é imoral andar com o nariz descoberto (?). Ou seja, roupas sendo usadas como meio de cobrir “as vergonhas” (como disse Pero Vaz de Caminha para o rei de Portugal no “descobrimento” do Brasil) soa verdadeiro em partes.

Mas por que raios as pessoas usam roupas afinal? Calma… vamos relaxar um pouco, ok? Que tal um chopp? Deixa eu chamar o garçom. É aquele cara com a camisa branca e gravata borboleta não é mesmo? Opa! Parece que temos mais um motivo de usarmos roupas. O nosso vestuário praticamente grita aquilo que somos. Mostra qual é o nosso emprego, nossa visão política, de onde somos e até de qual religião é a sua. Ou seja, as roupas é uma forma de nos identificarmos para a sociedade. Dizer a ela qual é o nosso status. Um bom exemplo (curioso por sinal) é durante a Idade Média onde o status dos homens era determinado, entre outras coisas, pelo tamanho do calçado que vestiam (ou seja, o número de vezes que o calçado era maior que o próprio pé). Os plebeus usavam calçados que eram 1/2 vez maior que pé. Já os nobres usavam calçados que eram 2,5x maior que o pé, terminando numa longa ponta. A ponta do gigantesco calçado era amarrado nas pernas. Na imagem que ilustra o post vemos homens usando grandes calçados pontudos. O mesmo valia para as mulheres com os seus incríveis penteados gigantescos durante a França antes da Revolução (nota de curiosidade: alguns penteados eram tão grandes que a boca da mulher ficava exatamente na metade da distância entre as pontas dos pés e o topo da cabeça. Penteados desse porte precisavam de um ajudante que ficava com uma espécie de rodinho segurando a cabeleira logo atrás da donzela. E mais: os penteados geralmente ficavam por meses a fio sem serem trocados ou lavados. Há registros de que baratas e até ninhos de ratos se formavam naquelas incríveis estruturas).

Hoje a roupa como status mudou pouco. Atualmente valorizamos a marca embutida nela, seja um Nike, Armani, Vitor Hugo, Chanel, Swarovski ou Diesel. Pois a marca passa uma identidade e se você se identifica com aquilo acabamos usando as marcas para mostrar o mundo quem somos e o que pensamos.

A roupa diz muito sobre nós. Pode ter surgido como um meio de nos proteger do frio ou cobrir nossas vergonhas mas elas, antes de tudo, mostra o que pensamos ou quem somos sem dizer palavra alguma. Bom, agora que tal outro chopp?

Imagem aqui.

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