Autismo

 

Fita com quebra-cabeças é o símbolo mundial da conscietização do autismo. Embora este post esteja saindo um pouco atrasado (pois estava sem computador e sem muita informação) eu participei em meados de maio de 2010 da XVII Semana da Biologia que aconteceu na UNESP em Bauru. Um dos diversos minicursos disponíveis era “Modelos Animais na Biologia Experimental do Comportamento”, ministrado pela doutoranda da USP Fernanda Pezzato.

Durante o curso ela apresentou um pouco sobre o seu projeto de doutorado que é verificar a ocorrência de sintomas do espectro autista em ratos que foram submetidos a lesão numa região específica do cérebro, a região da rafe.

As perguntas a seguir foram feitas por mim as pressas durante a pausa para o almoço. Tive acesso à introdução de sua tese e algumas perguntas da entrevista foram complementadas com ela (sugestão da própria Fernanda).

Do Nano ao Macro: o que é Autismo?
Fernanda: o transtorno autista é um processo invasivo do desenvolvimento, definido por três sintomas fundamentais: 1) comprometimento da integração social, ou seja, não tem interesse em interagir com as pessoas e tem falta de reciprocidade emocional; 2) desvios da comunicação, onde se nota um atraso ou ausência total do desenvolvimento da linguagem falada e não conseguem iniciar ou manter uma conversa e; 3) padrões comportamentais restritos e estereotipados, ou seja, o dia-a-dia é movido a rotinas ou rituais específicos. De acordo com dados do CDC (Centro para Controle e Prevenção de Doenças americano) os autistas processam a informação de forma diferenciada, tendo hipersensibilidade a estímulos visuais, sonoros, táteis, olfativos e gustativos.

NM: o transtorno tem cura?
F: ainda não há cura para pessoas com espectro autista, entretanto alguns tratamentos podem melhorar o desenvolvimento delas. Alguns especialistas mostraram que métodos como ABA (Applied Behavior Analysis, ou Análise Aplicada do Comportamento), a terapia do discurso (Speech Therapy), o sistema de comunicação por figuras (Picture Exchange Communication System) e outros métodos que promovem o desenvolvimento na linguagem, sociabilidade e autonomia.

NM: existem muitos casos no Brasil de autismo?
F: não há números exatos sobre autismo no Brasil mas estimativas feitas pelos americanos mostram que no mundo 1 de cada 100 pessoas possuem algum grau de autismo.

NM: como é a pesquisa que você está realizando?
F: queremos saber (eu e o professor Hoshino – co-orientador do Lab. de Neurobiologia UNESP/Bauru) se os animais que sofreram lesão no núcleo mediano da rafe apresentam alguns comportamentos estereotipados típicos do transtorno autista.

NM: por que essa região específica?
F: diversos autores mostraram que o núcleo da rafe está relacionado ao controle dos comportamentos emocionais. O que estamos fazendo  é provocar uma lesão eletrolítica nesse local e verificar se houve ou não a alteração de comportamento. Isso não significa que as pessoas com espectro autista tenham lesão nessa área do cérebro. O que estamos fazendo é induzir os mesmos comportamentos nos ratos para estudo.

NM: o que causa o autismo?
F: pesquisas apontam haver uma base genética para o autismo. Além disso, crianças que sofreram problemas durante a vida intra-uterina como rubéola, síndrome de Rett ou expostos a talidomida por exemplo podem apresentar autismo. Além de diversos outros fatores, é claro. Mas até agora nenhum desses fatores parece ser exclusivo do autismo.

 

Espero que tenham gostado da primeira entrevista do ‘Do Nano ao Macro’. Agradeço à Fernanda Pezzato por ter tido a paciência de responder as perguntas e mandar sua tese para eu ler. Espero ter outras oportunidades de entrevista com pessoas e assuntos interessantes. Até!

Imagem por Cheryl’s Art Box em seu Flickr. Com dados de:
Pezzato, Fernanda (2010), “Envolvimento das vias serotonérgicas na etiologia dos sintomas autistas: avaliação em ratos com lesão eletrolítica no núcleo mediano da rafe”, Tese de doutorado em psicologia. São Paulo. Universidade de São Paulo.

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