9 Meses - post 8

As duas faixas que apareciam no "termômetro" fez Carlos perder a fala. De felicidade.

Notícia
Carlos acordara para ir à empresa onde trabalha. Nos sábados ele sentia uma pontinha de inveja de Ana que não precisava acordar nesses dias para ir ao trabalho, visto que a empresa de Biotecnologia onde trabalhava não abria. Ana ainda estava na cama quando Carlos lhe deu um beijo de despedida. Carlos fechou a porta da casa atrás de si contente em saber que casara com a mulher de seus sonhos e que, embora quisesse estar na cama também, reconheceu que ela merecia um descanso a mais.

Ana, entretanto, não estava cochilando como pensara Carlos: estava ansiosa. Mal ouviu o barulho da porta fechada por Carlos que pulou da cama. Como se estivesse pronta para cometer um crime, anda silenciosamente em direção ao guarda-roupa. Ao abrir uma das portas, ela se depara com um corpo magro de pouco mais de 1,65m, usando uma blusinha e o lado esquerdo da calcinha levemente mais baixo que o lado direito. Ela se olha por alguns segundos no espelho, arruma a calcinha de modo a ficar ambos os lados alinhados e, em seguida, aproxima a mão próximo do espelho. Embaixo de uma caixa de perfume ela retira uma pequena caixa. Nisso ela ouve um barulho. Ela rapidamente retira a caixa do guarda-roupa e a esconde atrás de si. Ela espera por alguns segundos. Percebe, então, que se trata da vizinha, cantarolando novamente. Mais relaxada ela vai ao banheiro e leva a caixinha consigo. Minutos mais tarde, o cachorro da vizinha levanta a cabeça preguiçosamente ao ouvir um grito de comemoração vindo da casa ao lado.

* * *

Meio-dia. Carlos abre a porta de sua casa e se depara com Ana usando a mesma roupa de dormir desde a hora que fora trabalhar. Ela exibia um imenso sorriso de ponta a ponta do rosto, acompanhada de olhos muito brilhantes, coisa que Carlos vira poucas vezes na vida.

-- Querida, tudo bem com você?

-- Não poderia estar melhor... - disse em um êxtase de felicidade que contagiou Carlos no mesmo minuto.

-- Nossa, o que pode ser? - disse desfrouxando a gravata que apertava seu pescoço desde cedo. Ao mesmo tempo recebe um tubinho de plástico de sua esposa - o que é isso? Um termômetro?

-- Não bobinho, leia do lado!

Carlos observa as letras pequenas que acompanhavam o estranho "termômetro".

-- Isso aqui é... quer dizer que é... - Carlos não estava enxergando mais nada, seus olhos estavam cheios d'água.

-- Carlos, eu estou grávida! - disse, pulando de felicidade.

O cachorro da vizinha levanta preguiçosamente, novamente, a cabeça ao ouvir um grito de comemoração vindo da casa ado lado. Depois de vários minutos de beijos e abraços, Carlos e Ana resolvem sentar um pouco.

-- Mas querida, onde você conseguiu isso? - perguntou Carlos, apontando para o "termômetro".

-- Antes de voltar do trabalho ontem, eu resolvi comprar um na farmácia. Minha menstruação está uma semana atrasada. Não contei nada pois poderia ser um alarme falso.

-- Quer dizer que esse 'plastiquinho' é 100% certo?

-- Não querido, feito do jeito certo, tem uma certeza de mais de 95%. Nada é 100%...

-- Mas então não é certeza?

-- Esse teste que comprei na farmácia é bastante seguro e informa com uma grande precisão, mas precisarei ir ao médico para saber realmente. Já liguei para o doutor Sérgio marcando uma consulta para segunda à tarde.

-- Que bom querida... mas então, o que esse "negócio" aí faz?

-- Hum... - Ana sentiu que era hora de abrir em seu cérebro o "livro de por quês" - amor, lembra quando te expliquei sobre como o corpo da mulher sabe quando não precisa menstruar?[1]

-- Hum... mais ou menos...

-- Bom, lembra da bolinha de células que eu disse que se implanta no útero, o futuro bebê. Lembra que ela tem uma única grande massa celular denominada sinciciotrofoblasto?[2] - Carlos concorda com a cabeça, recordando - então, essa grande massa celular irá produzir um hormônio, chamado de gonadotrofina coriônica humana, ou hCG. Esse hormônio produzido por ele informa o corpo da mulher a não menstruar, já que o blastocisto está se implantando e não quer ir embora junto com a menstruação.

-- Ah sim, é verdade... me lembro.

-- Então, esses testes de farmácia fazem exatamente isso. Eles detectam esse hormônio que fica depois na urina da mulher. A maioria dos testes precisam que a mulher os faça logo pela manhã. Mas varia do fabricante.

-- Que legal, hein... - disse. Em seguida, ele olha apaixonadamente para Ana. Ana responde com um leve sorriso envergonhado. Carlos coloca sua mão na nuca de Ana - essa foi a melhor notícia que recebi até agora...

-- Eu sei. Nós dois sabemos que não vemos a hora de ter um filho - disse, entre a fala normal e o sussuro.

-- Te amo... - ambos se levantam, se abraçam longamente e, em seguida, um beijo demorado, acompanhado de algumas lágrimas que escorriam pela face. Depois de alguns minutos...

-- Querida, acho que é a hora de darmos a notícia para todos.

-- Mas querido, não tenho certeza absoluta.

-- Não importa!

E, ao longo de toda a tarde, o telefone sem fio na casa de Ana e Carlos compartilhou para todos os parentes e amigos a melhor notícia que eles estavam esperando.

Informações extras:
[1]: veja mais sobre o assunto no primeiro post da série, aqui.

[2]: veja sobre as etapas de implantação nos dois posts anteriores da série, aqui e aqui (recomendo que veja na ordem de postagem).

P.s.: os conhecidos testes de farmácia se aproveitam principalmente dos níveis de hCG presente na urina da mulher. Entretanto, a bioquímica feminina é muito sensível e resultados falsos-positivos (onde o teste indica uma coisa mas não é) podem ocorrer (o contrário, falso-negativo, pode ocorrer também). Portanto, independente do resultado, é de suma importância a consulta de um médico ginecologista para uma orientação correta. A série 9 Meses do blog Do Nano ao Macro se baseia nos conhecimentos atuais da Embriologia para construir uma história onde os eventos da gestação são contados ao leitor. Não substitua o médico pela internet, pode ser prejudicial a sua saúde.

Imagem por ~OddworldianPrincess em seu deviantART.

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