#Blogaction14 - Mulheres na ciência


A ciência parece ser uma área de trabalho (sim, queridos amigos... ciência é um emprego como outro qualquer[1]) que seria a mais nobre de todas. Ela aparenta ser uma área em que todos interessados em ciência, nessa senhora de quatro séculos de idade, podem simplesmente começar a 'fazer ciência'.

Entretanto, não é bem assim. A ciência, vendo a comunidade científica, tende a ser conservadora e seguir aquilo que a sociedade em que essa comunidade científica está inserida.

Durante séculos, o trabalho científico foi desempenhado quase que exclusivamente por homens. Embora a primeira mulher laureada com um Nobel, a polonesa Marie Curie[2], tenha recebido o prêmio em 1903, apenas dois anos depois do prêmio começar a ser concedido, ela quase não foi laureada, justamente pelo fato de ser mulher. Pierre, seu marido, pediu para que ela também fosse honrada por tal prêmio[3]. De fato, dos 826 laureados com o prêmio Nobel, o gritante número de 43 foram para mulheres (inclui os prêmio Nobel da Paz que, seguindo a temática dessa postagem, não é uma área da ciência per si).

O Nobel, embora uma bom método de comparar essas diferenças, não deve ser apenas o único: afinal de contas, nem todos (homens e mulheres) ganham um Nobel. Analisando outros dados, vemos que a desigualdade entre homens e mulheres é, digamos, seletiva.

Cursos voltados para ciências humanas e de saúde, como pedagogia, psicologia, enfermagem, letras e biologia são majoritariamente femininas (mínimo de 70% dos inscritos no Provão, nesses cursos, foram mulheres). Já cursos da área de exatas, como engenharias e física, a taxa de mulheres fica em torno de 20%.

Um bom exemplo a ser citado é de Ada Lovelace, a primeira a programadora da história. Ela traduziu um trabalho para o inglês sobre um computador mecânico, incrementando notas nesse mesmo trabalho (que acabou tendo o triplo do tamanho do trabalho original) e apresentando, na parte final das notas, uma programação para a máquina, que permitia ir além de desempenhar contas simples. Ada assinou com AAL, as iniciais de seu nome. A descoberta de que fora uma mulher a construir o primeiro código só ocorreu anos mais tarde. Em 2009, Suw Charman-Anderson criou o Ada Lovelace Day, que visa lembrar do importante trabalho de Ada para a programação. A data é comemorada no dia 14 de outubro.

Nossos colegas lusitanos são uma exceção nessa diferença entre homens e mulheres nas exatas: nas engenharias, 50% dos doutorados foram para elas, sendo considerado um caso excepcional, mesmo na Europa, onde a igualdade entre os gêneros está cada vez menos gritante.

Como curiosidade, a Revista Pesquisa Fapesp realiza entrevistas com cientistas importantes do cenário nacional. Das 158 entrevistas feitas pela revista até agora, 26 foram dadas por mulheres, pouco mais de 16%. E, no fim do ano passado, Roberto Takata fez um levantamento sobre a visão do brasileiro sobre CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) e, embora ele tenha feito uma boa campanha online pedindo maior participação feminina, menos de 30% das participações foram delas.

Ainda assim, elas podem ficar animadas. "As mulheres entraram no século XX analfabetas e terminaram o século com escolaridade maior que a dos homens", disse Hildete Pereira de Melo da UFF, para a Agência Fapesp (em uma matéria a que fez parte da pesquisa para a construção dessa postagem). Em 2001, 52% dos diplomas de ensino superior emitido no Brasil foram para mulheres.

Finalizo com um relato pessoal: me formei em biologia, uma área em que, em sua maioria, são mulheres. Estou fazendo pós-graduação em Doenças Tropicais, uma área da saúde (composta basicamente por mulheres). Portanto, sou uma mulher. Vejo o empenho de todas elas em entender mais sobre o mecanismo ou fenômeno que estão estudando e possuem o mesmo empenho e dedicação que os homens (talvez até mais, já que elas são mulheres, esposas, mães,...) e admiro o trabalho que desempenham. As parabenizo pelas conquistas já alcançadas e que conquistem muito mais (isso inclui você, leitora, amiga e colega desse ilustre blogueiro de ciências).

Vamos manter o debate no ar! Deixemos o machismo de lado. Quando o assunto é ciência, quanto mais cabeças pensando, seja de homens ou mulheres, melhor!

* * *

Essa postagem faz parte de ação coletiva do Blog Action Day. Todo ano um tema é proposto para os participantes debaterem. Esse ano o tema foi: desigualdade. Participe você também: use seu blog, tweet, comente no Facebook ou Google+ ou publique um vídeo no YouTube falando sobre o assunto. Use #Blogaction14 ou #inequality para compartilhar. Veja mais aqui.

Rodapé:
[1]: a profissão cientista, de fato, não existe no Brasil. Carece de lei que regulamente essa profissão no Brasil. No máximo, há os pós-graduandos que desempenham atividades científicas no país e os Pesquisadores-Professores, empregados em universidades.

[2]: adoro essa mulher. A acho incrível!

[3]: entretanto, Marie Curie ganhou um segundo Nobel, sendo a única a ganhar dois Nobel na área de ciências. Esse segundo foi sem 'ajuda' de qualquer homem. Infelizmente, sem uma história triste ainda: Marie estava sendo acusada de ter um caso com outro homem pela imprensa francesa na época da divulgação do prêmio e muitos homens relacionados ao prêmio pediram para ela não ir, para evitar manchar a boa imagem da instituição. É desde muito tempo em que vemos que as pessoas não sabem separar o pessoal do profissional (embora fosse fofoca da imprensa, o que as pessoas tinham haver com isso, não é mesmo?).

Com imagem por Maia Weinstock em seu Flickr. Com informações de Wikipedia, LuluzinhaCamp, HypeScience, Agência Fapesp, Pesquisa Fapesp, Pesquisa Fapesp, Gene Repórter e Publico.pt.

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