O que sabemos sobre o Zika?


Depois dos primeiros casos confirmados de chukungunya[1] no Brasil em meados de 2014 (chegando a mais de 2.500 casos notificados pelo Ministério da Saúde até a semana 12 de 2015), chegou a vez de mais uma doença aterrizar em solo tupiniquim: a febre zika[2].

Sua descoberta é recente, remontando os anos 40 e 50. Pesquisadores estavam investigando febre que estava acometendo macacos Rhesus em Uganda, África, em 1947. Apenas em 1952 os pesquisadores conseguiram isolar o vírus em laboratório. Em 1954, foi isolado pela primeira vez de um homem na Nigéria, também na África. O vírus, pertence a família Flaviviridae[3], recebeu o nome Zika, já que os primeiros trabalhos ocorreram próximo à floresta de Zika, em Uganda. Zika significa 'coberto', 'cheio', na língua local, Luganda.

Transmitido pelo mosquito do gênero Aedes[4], a febre zika apresentava diversos casos isolados, principalmente na África e sudeste asiático onde a circulação do mosquito é grande[4]. A literatura médica possui muito poucos trabalhos sobre a febre zika, limitando-se a relatar casos importados de visitantes que foram ou vieram dos países onde existe a doença. Em uma busca no banco de dados de artigos científicos PubMed, apenas 104 artigos retornam sobre a doença[5], metade desses, publicados nos últimos 20 anos.

Esquema simplificado ilustrando a transmissão do vírus zika. O Aedes pica o indivíduo (em 1) e o vírus entra na
circulação sanguínea (2). Dentro da célula, o vírus libera o RNA (3), que é processado pelo maquinário celular (4),
gerando novos vírus zika, que rompem a célula, ficando livres na circulação (5). Um mosquito pica o doente,
se infectando com o vírus, podendo infectar novas pessoas (6).

O zika é um vírus de RNA de fita simples de sentido positivo, ou seja, seu material genético é lido diretamente pela célula hospedeira, gerando novos vírus (o vírus zika é citado na comunidade científica como ZIKV). Os sintomas são semelhantes aos da dengue, mas de forma branda, causando febre, cansaço, conjuntivite, coceira e vermelhidão.

Como dito anteriormente, durante décadas, os casos relatados eram raros. Em 2007, porém, uma grande epidemia atingiu as ilhas Yap, na Micronésia, no Pacífico. Em 2013, outros surtos no Pacífico, principalmente na Polinésia Francesa ocorreram, com mais de 28 mil casos relatados.

Com esses surtos, os pesquisadores obtiveram dados interessantes, como a possibilidade de ocorrer transmissão durante transfusão de sangue (quando doadores assintomáticos, mas com o vírus circulante, doavam sangue) e a possibilidade de transmissão sexual do vírus, como relatado em um estudo de 2011 quando pesquisadores que voltaram de área endêmica tiveram relação com suas esposas e estas desenvolveram os mesmos sintomas da doença dias depois. Além disso, amostra de esperma de um doente apontou a presença do vírus zika. O vírus também foi encontrado em amostras de urina de pacientes em um estudo de 2015.

Inícios de casos no Brasil
Na última semana de abril, pesquisadores da UFBA descobriram que uma doença, até então misteriosa e que havia infectado mais de 500 pessoas na Bahia, é a febre zika. Os médicos acreditam que o vírus chegou no país ainda no ano passado, durante os jogos da Copa do Mundo, onde um grande número de turistas vindos de várias partes do mundo (incluindo de áreas endêmicas) ficaram no Brasil. O vírus pode estar circulando entre as pessoas desde então, mas em um número muito reduzido de pessoas. Esse ano de 2015, com a dispersão disseminada do mosquito transmissor, os casos começaram a chamar a atenção devido aos seus sintomas característicos.

Microcefalia e Síndrome de Guillain-Barré*
No final de outubro e começo de novembro de 2015, casos fora da média de recém-nascidos com microcefalia começaram a chamar a atenção da comunidade médica. Os casos, concentrados no Nordeste, possuem uma relação com possível infecção por vírus zika pela mãe durante a gravidez. Essa relação, defendida primeiramente pelo Ministério da Saúde do Brasil, sendo seguido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização Panamericana de Saúde (PAHO) não é 100% causal. Ou seja, não podemos afirmar que o zika realmente é responsável pelos casos de microcefalia nos recém-nascidos, embora exista essa relação.

A microcefalia é caracterizado por recém-nascidos que possuem diâmetro do crânio menor que 33cm. Diversas causas podem ser responsáveis por essa má-formação de desenvolvimento: exposição da mãe a radiações ionizantes (material radioativo, por exemplo), uso de medicamentos ou drogas, além de infecção por vírus e bactérias durante a gestação. Mais de mil casos foram relatados no Brasil, quase sua totalidade apenas no nordeste, local onde se concentra a maioria dos casos de zika.

Os órgãos de saúde recomendam o uso de repelentes e roupas que cubram o corpo para as mulheres que estão grávidas ou pretendem engravidar, para evitar exposição da pele ao mosquito Aedes aegypti e possam vir a ser infectadas pelo zika. Entretanto, alguns médicos são mais radicais e até mesmo estão recomendando para as mulheres adiarem possíveis planos de gravidez para os próximos meses. O objetivo seria aprender mais sobre a doença e como criar mecanismos que permitam uma gravidez segura para a mãe e saudável para o feto.

Além dos casos de microcefalia, outra doença está sendo associada ao zika: a síndrome de Guillain-Barré (SGB) (ou, ainda polirradiculoneuropatia idiopática aguda). A SGB é uma doença autoimune (ou seja, o sistema imune acredita que as células do corpo são invasoras e as atacam, causando problemas de saúde). Nesse caso, ocorre a destruição de uma camada que protege as células nervosas, causando problemas em envio de sinais elétricos para os músculos, que começam a apresentar fraqueza. Casos graves podem causar problemas cardíacos e respiratórios, embora o paciente tenha um quadro positivo, melhorando da doença após vários meses de tratamento.

A maioria dos casos relatados à síndrome ocorreram após infecção por vírus e bactérias e a infecção por zika é a principal causa do aumento de casos no Brasil nos últimos meses.

Importante lembrar que nem todos os pacientes positivos para zika irão desenvolver complicações. Entretanto, a doença é pouco conhecida na comunidade científica e o surto atual que o Brasil está passando está servindo para s cientistas, infectologistas e médicos aprenderem sobre seus mecanismos de ação dentro e fora do corpo e as consequências à longo prazo. Medidas de proteção pessoal, como o repelente, são importantes. Mas a doença só será controlada quando o principal vetor da doença, o mosquito Aedes aegypti for eliminado do centro urbano. Infelizmente, a descuido da população não oferece um bom prognóstico sobre o futuro dessa e outras doenças transmitidas por mosquitos no país.

Recentemente***, começou a ser levantada a polêmica ideia de permitir que mulheres grávidas positivas para o vírus zika a opção de abortar. Alguns especialistas dizem que a lei brasileira sobre aborto para anencéfalos poderia ser ampliada para esse caso. Karl, do Ecce Medicus, explica as diferenças entre anencefalia e microcefalia, mostrando que existem grandes diferenças entre os dois casos. Provavelmente não seria aplicável estender a lei para esse tipo de caso.

Embora um blog de temática científica, é notável que mais assuntos da sociedade peçam para que a ciência ajude-os a elucidar. Acredito ser melhor criar uma lei mais ampla e que vise o bem-estar e a liberdade feminina do que remendar leis já existentes apenas para 'corrigir' um problema 'momentâneo' provavelmente não é a melhor solução. Adaptar as leis ao sabor do momento é como se não houvesse lei nenhuma vigorando. Com certeza esse é um assunto delicado e que merece a atenção não apenas das mulheres e da classe científica, mas de toda a sociedade.

Mais informações: veja mais notícias sobre casos da febre zika no país consultando as atualizações mais importantes sobre a doença logo abaixo.

*Texto inserido em 02/12/2015, atualizando informações importantes.
*** Texto inserido em 06/02/2016, atualizando informações importantes.

Febre zika, seus boatos e mitos**
Desde o surgimento de casos de microcefalia envolvendo a febre zika no país, boatos (hoax) estão sendo disseminados pelas redes sociais. Muito desses boatos claramente são infundados, enquanto outros são ricos em detalhes, trazendo um grau de veracidade que assusta. Embora não tenha recebido nenhum desses boatos, alguns amigos e colegas receberam, sem contar de que esse tipo de conteúdo estar sendo compartilhado indiscriminadamente pela internet. O blogueiro e biólogo Roberto Takata no blog 'Gene Repórter' apresenta vários boatos e quais os motivos que devemos levar em consideração para ignorar e não passar esses boatos para frente.

Destaco o boato relacionando os casos de microcefalia nos recém-nascidos com a administração da vacina contra rubéola em grávidas. Outra versão diz que vacinas vencidas estavam sendo usadas e o Governo resolveu encobrir o caso dizendo que o culpado é o vírus zika. O boato talvez se valha da informação de que realmente mães grávidas que contraem rubéola podem ter filhos com microcefalia. Mas o boato falha em dois pontos: o Brasil está livre da rubéola, o que impediria das mães de contraí-la e, talvez o mais importante, grávidas não tomam a vacina para rubéola.

Outros boatos sugerem que os mosquitos transgênicos de Aedes aegypti teriam sido responsáveis pelo surgimento do vírus zika e que não existem casos de microcefalia na África, país de origem do vírus. Takata destrincha esse e outros boatos que circulam por aí (uns um tanto bizarros, desafiando a nova geração de escritores de ficção científica).

Boatos e mitos são um desserviço ao trabalho de agentes de saúde e de pesquisadores que buscam entender a doença. Uma regra de ouro, defendida por Takata, é: se a mensagem parece alarmista e pede para ser compartilhada para o máximo de pessoas possível, fique esperto: muito provavelmente é um boato pedindo para se espalhar feito um vírus de computador. Simplesmente descarte a mensagem.

Os boatos apelam para coisas que são difíceis de serem comprovadas por pessoas comuns (como o boato de que não podemos ligar o ar-condicionado do carro assim que entramos pois ele libera benzeno, que é cancerígeno (ninguém anda com um espectrômetro de massa no bolso para medir isso de verdade)), cita nomes de doutores e universidades conceituadas, passando seriedade para o conteúdo, geralmente alarmista e apelativo.

Em caso de dúvidas, consulte materiais na internet vindas de páginas sérias, como o Fiocruz e Ministério da Saúde, além de páginas e blogs de divulgação científica que possuem seriedade na divulgação de conteúdos.

Mais recentemente***, outros boatos estão sendo ligados ao vírus zika. Entre eles, é que a Fundação Rockefeller (uma entidade não-governamental americana que investe em filantropia, pesquisas e saúde) teria criado o vírus zika em seus laboratórios e que hoje ele os vende em seu site. Na verdade, a Rockfeller financiou os pesquisadores que descobriram o vírus em Uganda (para quem chegou no blog para ler os boatos, recomendo ler o começo dessa postagem sobre a descoberta do vírus). E sim, eles vendem o vírus no site deles. Mas não para fazer qualquer tipo de bioterrorismo.

Cientistas, para pesquisar alguma vacina ou como a doença funciona, precisam ter o agente causador da doença em mãos para trabalhar, certo? Nenhum laboratório do mundo tem tudo pronto. Muitas coisas são compradas de outros laboratórios (ou cedidas, emprestadas, depende de parcerias e interesses). Isso vale desde álcool para limpeza de bancada até reagentes para sequenciamento de DNA. Com vírus, células, bactérias, não é diferente. Óbvio que não é qualquer um que chega e compra uma coisa dessas. Instituições de pesquisas possuem licença para esse tipo de coisa[8]. Ou seja, a informação de que eles vendem o vírus é verídica, mas não do jeito como a maioria das pessoas pensam. Átila, em seu Rainha Vermelha, conta mais sobre esse boato.

**Texto inserido em 20/12/2015, atualizando informações importantes.
*** Texto inserido em 06/02/2016, atualizando informações importantes.

* * *

Mais uma doença transmitida pelo já conhecido "mosquito da dengue" aporta no Brasil. Doenças transmitidas por artrópodes (grupo de animais onde insetos (como os mosquitos) e aracnídeos (como os carrapatos)) tendem a se disseminar rapidamente quando estes encontram condições para procriar. Assim como os casos de chikungunya, que cresceram de forma rápida no país em apenas um ano no Brasil, a febre zika promete ser mais uma doença que irá se disseminar rapidamente entre a população, já que o controle do mosquito Aedes está longe do ideal.

Para evitar uma postagem muito extensa, as atualizações mais importantes sobre a doença, sua relação com os casos de microcefalia e síndrome de Guillain-Barré, além de avanços importantes no conhecimento científico estarão abaixo. Para quem está vendo a postagem navegando pela página inicial do blog, clique no link que aparece abaixo (abrirá apenas a postagem sobre o zika, com o conteúdo completo).

A postagem também foi complementada informando apenas os números de casos de microcefalia relacionados ao vírus zika, para ser encontrada com maior facilidade.



Números da microcefalia no Brasil:
Boletim epidemiológico divulgando dados até 14/05/2016: 7.534 casos de microcefalia (distribuídos em 1.407 (25,3%) dos 5.570 municípios brasileiros), onde 3.332 (44,2%) casos permanecem em
investigação e 4.202 casos foram investigados e classificados, sendo 1.384 confirmados para microcefalia e/ou alteração sugestiva e 2.818 descartados.

Casos notificados e confirmados de microcefalia no Brasil, até metade de maio de 2016.

Atualizações:
*33, 20/05/16: depois de mais de dois meses sem atualizações (veja aqui o motivo) nessa publicação (notícias importantes foram sendo compartilhadas na página do blog no Facebook (curta! 👍 e siga no Twitter)), essa atualização irá compilar os avanços no conhecimento acerca do vírus zika. O Brasil registrou, até metade de maio, mais de 7,5 mil casos de microcefalia, onde 1,3 mil destes foram confirmados e mais de 4 mil estão sendo investigados. No mundo, 38 países registraram transmissão autóctone do vírus, seja por transmissão vetorial (via mosquito) como por relação sexual sem proteção (10 casos registrados até o momento. Argentina, Canadá, Chile e Peru registraram um caso cada e seis casos no EUA). Veja aqui. Uma pesquisa conduzida no Brasil por pesquisadores do Instituto D'Or relacionaram o vírus zika com os casos de microcefalia ao infectarem 'órgãos em miniatura' que simulam as atividades do cérebro com o vírus zika. O trabalho mostrou que os organoides infectados apresentaram anormalidades de crescimento quando comparado com os não infectados (os "saudáveis"). O trabalho foi publicado na Science. Veja aqui. Outro estudo, da USP e da Universidade da Califórnia, os pesquisadores chegaram na mesma conclusão, ao infectar cérebro de ratos e verificarem uma diferença no desenvolvimento no cérebro dos animais infectados. Veja aqui. Sabemos, com o trabalho de pesquisadores americanos e brasileiros, que o vírus zika circulante no Brasil é diferente do que circula na África (país de origem do vírus). Foi divulgado hoje pela OMS que a variante do vírus da América Latina foi encontrada pela primeira vez na África (em Cabo Verde). Mais de 7,5 casos de febre zika e três casos de microcefalia foram notificados em Cabo Verde até o começo do mês. A presença da variante americana na África reforça a importância das viagens de avião em dispersar facilmente diversas doenças por todo o mundo em pouco tempo. Veja aqui. Finalizando com um reporte do Ministério da Saúde do Brasil com um suspeita de mais de 91 mil casos prováveis de zika no país. Além disso, o avanço da dengue e chikungunya preocupam as autoridades de saúde, que consideram essas doenças transmitidas pelo Aedes como uma 'tríplice epidemia'. Veja aqui. Acompanhe notícias sobre o vírus zika e outras informações científicas interessantes na página do blog no Facebook e pelo Twitter.

*32, 07/03/16: depois de um breve pausa nas atualizações (veja a postagem sobre minha ausência no blog, aqui), retorno com uma atualização de casos de vírus zika, microcefalia e síndrome de Guillain-Barré reportados pelos países membros da OMS. No total, desde 1 de janeiro de 2007 até o começo desse mês de março de 2016, 52 países e territórios notificaram casos autóctones do vírus zika. Além disso, casos de microcefalia associados ao zika foram relatados também na Polinésia Francesa, além do Brasil. A OMS declarou a febre zika como emergência de saúde pública em âmbito internacional no começo de fevereiro. Veja o reporte da OMS aqui. O FioCruz também soltou os resultados de um estudo indicando que o vírus zika foi encontrado, de pesquisas de laboratório, nas glândulas salivares do mosquito Culex. Ele é o gênero do conhecido pernilongo comum, existente em praticamente todo o Brasil. Embora ainda não tenha comprovado a possibilidade de transmissão por esse mosquito, a possibilidade de que o vírus consiga se desenvolver dentro desse outro mosquito além do Aedes é preocupante, visto que o Aedes tem uma distribuição menor que o Culex. Veja aqui.

*31, 05/02/16: o Fiocruz detectou a presença do vírus zika em amostras de saliva e urina de pacientes positivos para a doença. Embora ainda não tenha sido comprovado que esses fluidos sirvam de rota de transmissão do vírus (além do mosquito Aedes), a divulgação feita pelo órgão é preocupante. A OMS, no começo do semana, pediu mais pesquisas sobre outras formas de transmissão e controle da doença, que alcançou o nível de Emergência de Saúde Público em 1º de fevereiro (atualização *29). Veja aqui.

*30, 03/02/16: foi noticiado uma possível transmissão do vírus zika pelo sexo. Se confirmado, países não endêmicos ou sem a presença do mosquito transmissor poderão ter casos autóctones (contraídos no próprio país) de zika (supondo que o parceiro viaje para área endêmica, retorne a país e tenha relações sexuais). A OMS pediu investigação sobre a possível associação, além de verificar em quais fluidos corporais o vírus pode ser encontrado e por quanto tempo depois do fim dos sintomas. Embora alarmante, Átila Iamarino em seu blog 'Rainha Vermelha' disse que casos contraídos dessa forma não deverão ser preocupantes, visto que apenas registros esporádicos deverão ser vistos, ao contrário da potencialidade que a transmissão vetorial (por mosquito) está mostrando (ainda mais com a possibilidade de outras espécies de mosquitos poderem transmitir o vírus, algo que está sendo verificado por pesquisas no FioCruz).Veja aqui e aqui.

*29, 01/02/16: os casos cada vez mais crescentes de febre zika e associações com microcefalia fez a OMS declarar hoje o caso como sendo de Emergência de Saúde Pública em âmbito internacional. A última vez que isso ocorrera foi em 2014, no surto de ebola. Com isso, a atenção da saúde pública mundial ficará voltado para esse assunto, que foi abordado exaustivamente pela mídia tanto nacional como internacional nos últimos dias.
Link: https://twitter.com/WHO/status/694225190117572608

*28, 16/01/16: em um comunicado, o CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças americano) recomendou que as grávidas e mulheres em período reprodutivo evitem visitar 14 países da América Latina, incluindo o Brasil, para evitar problemas relacionados à febre zika. O órgão americano ainda disse que ainda não se sabe qual o período da gravidez é o mais arriscado contrair o vírus e nem quanto tempo ele poderia causar problemas, mesmo após os sintomas terem cessado, o que justifica as mulheres que pretendem ficar grávidas nos próximos meses a evitar os países latino-americanos. Veja aqui.

*27, 14/01/16: em artigo publicado esse mês no "Ultrasound in Obstetrics & Gynecology", a médica Adriana Melo e colegas apontam para outras possíveis complicações fetais que poderiam ser causadas pelo vírus zika. Além da associação com microcefalia, o zika poderia levar a problemas de formação dos membros, conhecido como artrogripose. Essa doença leva a uma má formação das extremidades óssea e muscular, deixando os membros do paciente atrofiados. Registra-se cerca de dois casos por ano no Brasil e, em apenas um mês, foram registrados quatro, o que ligou o alerta da equipe médica, que investigou casos em Campina Grande, na Paraíba. Além disso, o artigo relata o caso de fetos com calcificação cerebral e redução do tamanho do cerebelo. As mães do estudo apresentaram sintomas clássicos de febre zika (vermelhidão na pele e dores articulares) e o vírus foi encontrado no líquido amniótico, que envolve o feto. O alerta médico publicado no periódico trouxe informações até então desconhecidas pela comunidade científica, que deverá se preocupar agora com outras possíveis complicações associadas ao vírus. O período chuvoso que é marcado o verão brasileiro provavelmente irá aumentar o número de casos tanto de zika como das outras doenças transmitidas pelo Aedes (chikungunya e dengue), além da já conhecida malária, comum no Norte do país. Veja o artigo publicado na íntegra aqui (em inglês) e mais informações aqui e aqui.

*26, 13/01/16: o CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças americano) informou que as amostras de quatro bebês com microcefalia do Brasil (dois que morreram após o parto e dois que sofreram aborto espontâneo) foram positivos para o vírus zika, reforçando a associação entre eles. As amostras foram enviadas por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Entretanto, para os pesquisadores, é necessário verificar se outros fatores podem estar contribuindo para que o vírus zika cause os casos de microcefalia (ele poderia ser o estopim, por assim dizer, que só seria aceso se outros fatores contribuírem). Além disso, é preciso o desenvolvimento de um teste de detecção rápida e eficaz, coisa que ainda não temos. Veja aqui.

*25, 12/01/16: uma investigação iniciada no ano passado está apresentando dados que podem aumentar um pouco mais a preocupação da associação entre o vírus zika e microcefalia. Cerca de 40% (~15 bebês) que apresentaram microcefalia associado ao vírus zika (40 bebês de um total de 79 que pode incluir outras causas) estão com problemas visuais, devido à má-formação do sistema visual. O achado mais comum foi atrofia na retina. O sistema visual está associado ao sistema nervos. Comprometimento no cérebro pode trazer problemas para o nervo óptico e retina. Veja mais aqui.

*24, 10/12/15, 14h: o Atila (citado na atualização *22), que cuida do conteúdo do Nerdologia, contou brevemente sobre o vírus zika e suas relações com a dengue e chikungunya, além de sua relação com os casos de microcefalia e síndrome de Guillain-Barré. Vale a pena assistir.


*23, 05/12/15, 18h: um recém-nascido com microcefalia gêmeo de um saudável foi o responsável pela investigação dos surto de microcefalia associado ao vírus zika no país. A criança, diagnosticada em agosto pela neuropediatra pernambucana Vanessa Van Der Linden, resolveu investigar a fundo a causa da microcefalia, que se mostraria aumentar o número de casos nas semanas seguintes. Após exames que descartaram outras possíveis causas (como rubéola, toxoplasmose e sífilis), foi feito exame para zika e chikungunya, com resultado negativo (o vírus não sobrevive muito tempo no corpo a ponto de ser detectado por exames). Foi dado continuidade na observação de mães grávidas que, assim como a mãe dos gêmeos, tiveram exantemas (erupções vermelhas na pele). Essas mulheres observadas tiveram crianças com microcefalia. Líquido amniótico dessas grávidas confirmou a presença do vírus zika, dando início a relação entre as duas doenças (veja atualizações *15, *16 e *17). Veja aqui. Além disso, a Secretaria da Saúde de Pernambuco resolveu adotar as medidas usadas pela OMS e agora considera como tendo microcefalia as crianças com circunferência craniana menor ou igual a 32cm. Até então eram usados as medidas do Ministério da Saúde de 33cm, um valor maior que, de acordo com o órgão estadual, é sensível demais e casos de microcefalia não são, necessariamente, uma má-formação. Essa nova medida será válida apenas em Pernambuco. Os demais Estados ainda seguem as recomendações do Ministério da Saúde. Veja aqui.

*22, 03/12/15, 13h: estudo disponibilizado online (sem revisão de pares ainda) com autoria principal de brasileiros (entre os co-autores está Átila Iamarino, conhecido biólogo responsável pelo conteúdo bacana do canal Nerdologia) mostra que o vírus zika está cada vez mais adaptado para infectar humanos. No princípio, o ciclo silvestre da doença ocorria principalmente em primatas não-humanos na África. A disseminação da doença pela Ásia fez o vírus criar adaptações para escapar do sistema imune. Uma das adaptações é mimetizar genes humanos, ou seja, ter genes que produziriam proteínas semelhantes a nossa, dificultando a ação do sistema imune em reconhecer a presença de um patógeno. Um das proteínas que o vírus zika começou a mimetizar de forma eficiente e rápida é a proteína NS1, que regula a interação entre o vírus e o sistema imune. Tal proteína é muito encontrada em infecções pelo vírus da dengue, onde ambos pertencem à mesma família. A proteína desorienta a ação do sistema imune, permitindo que o vírus se replique facilmente.
Ou seja, esses mecanismos que o diferem da forma encontrada na África (que infecta animais ainda) estaria relacionada à grande facilidade de adaptação do vírus ao homem. Talvez essa facilidade em mimetizar genes humanos possa explicar os casos da síndrome de Guillain-Barré, que é uma doença autoimune. O organismo, acreditando que aquela proteína produzida pela ação viral é invasora, ele começa a atacá-la. Entretanto, ele não diferencia de proteínas produzidas realmente pelo corpo, que seriam semelhantes.
Mais estudos deverão ser conduzidos afim de verificar as mutações ocorridas entre as diversas formas do vírus zika e descobrir o potencial de infecção no futuro. Reanálises da epidemia na Polinésia Francesa em 2013 poderão trazer mais luz sobre o assunto. Veja mais informações aqui. O artigo publicado no bioRxiv, em inglês, aqui.

*21, 02/12/15, 13h: a OMS e a Organização Panamericana de Saúde (PAHO) emitiu um alerta global de uma epidemia de microcefalia, relacionado aos diversos casos de febre zika. De acordo com a nota, dados comparativos entre 2014 e 2015 permitem relacionar o aumento do número de casos da febre zika (que explodiu esse ano no Brasil) com o aumento expressivo de recém-nascidos com microcefalia, mas não é possível dizer com 100% que ele seja o causador, sem antes verificar outras possíveis interferências. Mesmo confirmando a relação, não é possível medir o impacto que a febre zika poderá causar nos países latinos e o futuro de recém-nascidos. Até o momento, nove países americanos confirmaram casos de zika e a falta de controle do principal vetor, o mosquito Aedes aegypti, apresenta um mau prognóstico. O documento da OMS não faz nenhuma recomendação importante sobre adiamento de gravidez, apenas recomendando cuidados como uso de repelentes. Veja aqui. E, finalizando essa atualização, o governador do Estado de Sergipe declarou estado de emergência após o aumento do número de casos de microcefalia. Subiu para 78 casos de recém-nascidos com microcefalia em 32 municípios. Além disso, foi confirmado a morte de um criança com microcefalia, desde a relação entre as doenças. A medida adotada por Sergipe segue o que Pernambuco fez no domingo, declarando estado de emergência pelos mesmos motivos. Mais aqui e aqui.

*20, 28/11/15, 19h: em uma nota à imprensa publicada hoje, o Ministério da Saúde (MS) confirmou a relação entre o zika e os casos de microcefalia. O Instituto Evandro Chagas processou amostras de sangue e tecido de um bebê que nasceu com microcefalia no Ceará. O bebê, que faleceu, tinha a presença do vírus que, para o MS, mostra a transmissão da mãe para o filho ainda na gravidez. A nota reforça que a situação é considerada inédita na pesquisa científica mundial e aponta que pesquisas sobre a transmissão e as causas que levam a má-formação precisam ser esclarecidas. Além disso, a nota reforça a necessidade do controle do principal transmissor da doença, o mosquito Aedes aegypti, responsável por transmitir também a dengue e chikungunya. Além disso, reforçando a atualização anterior, além do homem com lúpus, uma menina de 16 anos do Pará também veio a óbito com positividade para o zika. Então, novas atualizações sobre dados de microcefalia e avanços nos conhecimento sobre transmissão congênita e síndrome de Guillain-Barré serão apresentados juntamente com a postagem sobre o zika. Veja a nota à imprensa do MS, aqui.

*19, 28/11/15, 18h: o Instituto Evandro Chagas confirmou a primeira morte associada a febre zika. O paciente, um homem do Maranhão, tinha lúpus, uma doença autoimune. Embora não traga muitas informações, doenças do tipo podem levar o paciente a sucumbir por outras doenças. A morte ocorreu em junho desse ano e apenas agora o Instituto confirmou a presença do vírus no sangue do paciente. É o primeiro registro de morte causado pela febre zika no país. Veja aqui.

*18, 26/11/15, 09h: o FioCruz de Pernambuco acredita haver uma forte relação entre o vírus zika e a síndrome de Guillain-Barré (na atualização *13 tem os primeiros registros de relação). Há registro de 130 casos no estado (contra nove registrados ano passado, antes da chegada do zika). Sete desses pacientes foram diagnosticados com zika antes de apresentar os sintomas da síndrome. A síndrome, que leva ao sistema imune a atacar as células nervosas e musculares, leva a um enfraquecimento muscular, principalmente nos membros, mas pode avançar e atingir o sistema respiratório, por exemplo. No surto de 2013 na Polinésia Francesa foi encontrada uma possível relação, mas inconclusivo, entre zika e a síndrome. Essa possível complicação se soma à possibilidade da febre zika estar associada aos mais de 700 casos de microcefalia. O Ministério da Saúde está investigando, e a PAHO está acompanhando esses casos. Veja aqui.

*17, 24/11/15, 20h: sobe para mais de 700 casos de microcefalia no Brasil. Embora casos esporádicos ocorram no decorrer do ano, esse número está assombrosamente alto. Apenas em Pernambuco são registrado quase 500 casos. Embora acredita-se que o contágio pelo vírus zika durante a gravidez seja o responsável pelos casos (veja atualização anterior), outras causas ainda não pode ser descartadas. O Ministério da Saúde informou que pretende criar um grupo semelhante ao que foi feito na época da pandemia da gripe A, que aborda a questão de forma ampla, com o objetivo de entender e minimizar os problemas e o surgimento de novos casos. O foco é tentar combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e zika (todos vírus de uma mesma família, a Flaviviridae). Entretanto, o país ainda não possui uma estratégia efetiva para combate ao mosquito. Veja aqui.

*16, 18/11/15, 09h: o Ministério da Saúde (MS) do Brasil publica o primeiro boletim epidemiológico relatando os casos de microcefalia. Até o momento, 399 casos de crianças que nasceram com o circunferência do crânio menor que 33 cm foram registrados em sete estados do Nordeste. Mais da metade (268) apenas no estado de Pernambuco. Embora ainda não se sabe os motivos dos casos, o FioCruz identificou a presença do vírus em duas mulheres gestantes. Exames de ultrassonografia confirmaram que os fetos estão com microcefalia, além de ter sido encontrado evidências de RNA viral (veja a postagem sobre a constituição do vírus zika e sua replicação no corpo) no líquido amniótico. Na semana passada o MS declarou o assunto como Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional, permitindo tomar medidas de controle e pesquisa sobre determinada enfermidade. Além disso, ontem (dia 17), a Organização PanAmericana de Saúde (PAHO), lançou um alerta epidemiológico para todos os países membros, solicitando que realizem um sistema de vigilância e notificação dos casos, afim de estudos e identificação das possíveis causas. O aumento repentino de casos assusta, visto que o país registrava, em média, 10 casos por estado por ano. Embora, até agora, não podemos dizer que o responsável pelos casos seja a febre zika, os especialistas apontam para ele. Portanto, até que se determine a verdadeira causa do aumento de microcefalia, as atualizações relevantes sobre a doença serão publicadas nessa postagem sobre o zika. Veja mais informações aqui, aqui e aqui.

*15, 14/11/15, 14h: um grupo do Ministério da Saúde (MS) do Brasil irá investigar as causas de um número absurdamente alto de recém-nascidos com microcefalia, sobretudo em Pernambuco. Até o momento dessa nota, 141 casos de microcefalia foram notificados. A microcefalia ocorre em recém-nascidos que tiveram problemas na formação do crânio e cérebros[7]. Diversas são as causas dessa má-formação, desde exposição da mãe à radiações, vírus, bactérias e substâncias químicas (alguns medicamentos, por exemplo). Alguns especialistas estão relacionando os casos de microcefalia com a possibilidade dessas mães terem sido expostas ao vírus zika. Embora, durante o surto da doença na Polinésia Francesa em Outubro de 2013, exista um estudo mostrando que a mãe pode transmitir o vírus para o feto, não existem estudos sobre o vírus ser o responsável pelos casos de microcefalia. Em um relato, que recebi por email, conta sobre o aumento no número de casos de microcefalia que ocorreram esse ano na Bahia. O período de nascimentos com esse problema está relacionado com o pico de relatos de febre zika quando essas mães estavam no segundo trimestre da gestação. Entretanto, médicos e especialistas também apontam o chikungunya e até mesmo a dengue como possibilidades para esses casos. Veja o estudo sobre transmissão fetal de zika aqui (em inglês). Relato publicado no ProMED aqui (em inglês). Nota do MS aqui.

*14, 31/08/15, 10h: o Ministério da Saúde brasileiro publicou uma breve revisão bibliográfica sobre a febre zika, apresentando dados epidemiológicos e métodos de detecção laboratorial. Para os interessados, deixo a imagem abaixo, retirada do artigo apresentando métodos de detecção molecular e sorológico[6] a partir do início dos sintomas. Para ver a revisão (em .pdf), clique aqui.

*13, 25/07/15, 12h: Ceará confirma a primeira morte causada por complicações da síndrome Guillain-Barré no Ceará, a quarta até agora no Nordeste. A doença, associada à febre zika, causa dormência no corpo e paralisia muscular. A síndrome trata-se de uma doença autoimune, em que o sistema de defesa ataca o próprio organismo, no caso, o sistema nervoso. Ela acontece geralmente após uma infecção por patógeno, entretanto, as rotas imunológicas ainda não estão claras. Veja a notícia aqui e uma revisão na PLOS One (em inglês) aqui. Agradeço a divertida Débora Losnak, colega de laboratório que compartilhou a notícia originalmente.

*12, 15/07/15, 10h: o Paraná confirma o primeiro caso autóctone (ou seja, a transmissão ocorreu dentro do próprio estado e não adquirido fora), detectado em uma mulher na região oeste do estado. Diversos casos estão sendo relatados em todo o Brasil, sobretudo na região nordeste. Veja aqui.

*11, 14/07/15, 13h: atualizando os números referentes à síndrome de Guillain Barré: subiu para 42 o número de casos da síndrome na Bahia. O Estado ainda confirmou a morte de uma mulher devido a complicações da síndrome. A maioria dos casos reside em Salvador. Veja aqui.

*10, 14/07/15: o surto da febre zika, sobretudo na Bahia, está levando ao aumento do número de casos de uma rara síndrome, que acomete um em cada 100 mil habitantes: a síndrome de Guillain Barré (ou, ainda, polirradiculoneuropatia idiopática aguda). A doença, provavelmente de caráter autoimune (veja aqui uma postagem que fiz sobre doenças autoimunes) provoca uma destruição de uma camada protetora dos neurônios, interferindo no envio de sinais elétricos para os músculos. Em casos graves, pode ocorrer parada respiratória e levar à morte. Entretanto, o paciente melhora e se cura, mas pode levar meses esse processo. A síndrome está associada a infecções anteriores por vírus e bactérias. Até o momento, 29 de 55 casos notificados da síndrome foram confirmados. Veja mais aqui e aprenda mais aqui.

*09, 27/06/15: 10 casos da febre zika foram confirmados no Ceará, e mais de 40 aguardam resultados de laboratório, de acordo com o Hospital São José, especialista em doenças infecciosas no Estado. O Ministério da Saúde do Brasil ainda não tem um estratégia para acompanhar essa doença. Um dos motivos, talvez, é a brandura dos sintomas, com raros casos graves e preocupantes, ao contrário da dengue e da chikungunya, também transmitidas pelo Aedes. Veja aqui.

*08, 19/06/15: a revista brasileira 'Memórias do Instituto Oswaldo Cruz apresenta um artigo inédito sobre o zika no país. Exames genéticos apontam alta relação do vírus com as variantes que circulam na Ásia (a partir da amostra de oito pacientes brasileiros). O estudo reforça a ideia de que a doença tenha aportado no Brasil ainda na Copa do Mundo em 2014. Veja mais informações aqui e o artigo publicado, em inglês, aqui.

*07, 16/06/15, 19h: o Twitter da OPS, agência de saúde pública pertencente à OMS, publicou vários tweets contando um pouco mais sobre a febre zika, como da imagem abaixo e outros como, por exemplo, relatando que não há casos de pessoas que contraíram a doença mais de uma vez e nem registro de mortes causadas pela doença. Tem Twitter? Siga @opsoms.


*06, 05/06/15, 13h: a secretaria da saúde do Pará informou o primeiro caso da febre zika no estado. Uma mulher do município de Dom Eliseu teve sintomas semelhantes à dengue, entretanto o diagnóstico laboratorial feito pelo Instituto Evandro Chagas confirmou o zika. A paciente foi tratada e está bem. Veja aqui.

*05, 02/06/15, 21h: o estado do Rio de Janeiro confirmou no começo da semana o primeiro caso de transmissão positiva do vírus zika no estado. Como relatado na atualização anterior, diversas amostras estavam sendo analisadas com suspeita da doença, mas apenas uma foi confirmada. Veja aqui.

*04, 26/05/15, 14h: o Fiocruz está analisando 20 casos suspeitos de zika no Rio de Janeiro. A doença, apesar de branda, causa confusão entre a população e entre os médicos, que podem diagnosticar erroneamente a doença. Além disso, a dificuldade no diagnóstico laboratorial da doença no país atrasa os resultados. Veja aqui.

*03, 24/05/15, 14h: o número de casos suspeitos de zika aumentou 200% no mês de maio nos postos de saúde de Salvador. O número de suspeitas está na casa de 5.400 pessoas, mais de 4 mil apenas nas primeiras semanas de maio. Entretanto, apenas oito casos foram confirmados na Bahia pelo Ministério da Saúde. Os demais casos ainda estão sendo considerados como uma doença exantemática (ou exantema) de causa indeterminada. Veja aqui.

*02, 22/05/15, 16h: a secretaria de saúde de São Paulo confirmou o primeiro caso da febre zika no estado. Um homem de 52 anos, morador de Sumaré, sem registro de viagem ao nordeste, apresentou os "sintomas brandos" da dengue e pediu exames detalhados. O resultado foi liberado pelo Instituto Adolfo Lutz de São Paulo. Veja aqui.

*01, 02/05/15, 17h: a secretaria de saúde de Teresina, no Piauí, confirmou a circulação do vírus zika na capital do estado. Casos na Paraíba também foram relatados, relacionando os sintomas. O Ministério da Saúde do Brasil ainda não se pronunciou sobre o assunto. Veja aqui e aqui.

* * *

P.s.: agradeço à Dra. Virgínia Bodelão, minha co-orientadora, por fornecer algumas informações para a construção dessa postagem.

P.s. 2: a ilustração do vírus que abre a postagem não é do vírus zika. Trata-se de uma ilustração genérica de um vírus da família Flaviviridae, a qual o zika pertence. Sua estrutura não deve ser tão diferente da imagem.

Rodapé:
[1]: muitos sites de notícias estão usando a versão aportuguesada 'chicungunha'. Entretanto, o Ministério da Saúde, em seus boletins epidemiológicos, trata a doença pelo nome original, como escrito no começo desse texto. Veja a postagem especial sobre a doença, clicando aqui.

[2]: sim, se prepare, será inevitável as piadinhas comparando a febre zika com a gíria popular 'zica'.

[3]: a família Flaviviridae engloba o velho conhecido vírus da dengue e da chikungunya, além de outras doenças não expressivas no Brasil, mas importantes no resto do mundo.

[4]: o gênero Aedes é o mesmo transmissor dos demais vírus da família Flaviviridae, citados no parágrafo anterior. Casos de dengue e chikungunya nesses países (assim como no Brasil, onde o mosquito transmissor é presente) é alto.

[5]: busca feita no dia 30 de abril de 2015, usando as palavras 'zika virus' no PubMed.

[6]: embora não tenha escrito nada sobre o assunto ainda (pretendo, em breve), de forma breve os exames de detecção de doenças laboratoriais podem ser sorológicas ou moleculares. A técnica sorológica se baseia em detectar a resposta imunológica do indivíduo quando ele pega a doença. Ele detecta os anticorpos presentes no soro. Como os anticorpos ficam no soro por muitos anos após a infecção, ele pode informar se a pessoa já foi exposta ao antígeno (à doença), mas não exatamente quando isso ocorreu. Pessoas saudáveis vacinadas contra uma doença vão apresentar sorologia positiva para a doença. Já os exames moleculares tendem a identificar o causador da doença na amostra (sangue ou tecido, por exemplo). Por isso, ele detecta a presenta do vírus, bactéria ou protozoário apenas quando ele está presente na amostra, e não em outro momento. O método mais comum é a PCR. E existem diversos tipos de PCR para diversas finalidades. O exame molecular é mais caro que o sorológico, mas ele é mais sensível e específico.

[7]: não há um consenso sobre o que pode ser considerado uma microcefalia. O Ministério da Saúde diz que medidas menores que a média, de 33cm de circunferência, são categorizados como sendo micrcefalia. Mas autores relatam que cálculos estatísticos deveriam ser melhor respeitados e que valores menores que 2 ou 3 desvios padrões da média da população local deveriam ser consideradas.

[8]: existem diversos produtos que só podem ser vendidos ou transportados com autorização de órgãos que regulam esse tipo de transação ou possuir uma quantidade limite de compra. A acetona, em sua forma pura, pode ser usado para construção de explosivos. Sua venda é limitada, mesmo para a área de saúde, que a usa como agente em diversos produtos farmacêuticos.

Com informações de:
G1, Band e Band.

BRASIL. Boletim Epidemiológico. Monitoramento dos casos de dengue e febre de chikungunya até a Semana Epidemiológica 12, 2015. v. 46, n. 11. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2015/abril/17/Boletim-Dengue-SE12-2015.pdf

Etymologia: Zika Virus. (2014). Emerging Infectious Diseases, 20(6), 1090. doi:10.3201/eid2006.ET2006

Foy, B. D., Kobylinski, K. C., Foy, J. L. C., Blitvich, B. J., Travassos da Rosa, A., Haddow, A. D., … Tesh, R. B. (2011). Probable Non–Vector-borne Transmission of Zika Virus, Colorado, USA. Emerging Infectious Diseases, 17(5), 880–882. doi:10.3201/eid1705.101939

Gourinat, A.-C., O’Connor, O., Calvez, E., Goarant, C., & Dupont-Rouzeyrol, M. (2015). Detection of Zika Virus in Urine. Emerging Infectious Diseases, 21(1), 84–86. doi:10.3201/eid2101.140894

Lanciotti RS, Kosoy OL, Laven JJ, Velez JO, Lambert AJ, Johnson AJ, et al. Genetic and serologic properties of Zika virus associated with an epidemic, Yap State, Micronesia, 2007. Emerg Infect Dis [serial on the Internet]. 2008 Aug. Available from http://wwwnc.cdc.gov/eid/article/14/8/08-0287

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Musso D, Nhan T, Robin E, Roche C, Bierlaire D, Zisou K, Shan Yan A, Cao-Lormeau VM, Broult J. (2014) Potential for Zika virus transmission through blood transfusion demonstrated during an outbreak in French Polynesia, November 2013 to February 2014. . Euro Surveill., 10(19). http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24739982

Musso, D., Roche, C., Robin, E., Nhan, T., Teissier, A., & Cao-Lormeau, V.-M. (2015). Potential Sexual Transmission of Zika Virus. Emerging Infectious Diseases, 21(2), 359–361. doi:10.3201/eid2102.141363

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