Báculo do falo (ou osso do pint*)

Báculo de uma morsa, medindo cerca de 60cm.

Sim, eu quis chamar a sua atenção com o título[1].

Diversos machos do grupo dos mamíferos possuem, para auxiliar durante o coito, um osso peniano chamado de báculo[2]. Os cães, que são animais próximos de nós, o possuem. Isso justifica o fato dos machos sempre estarem, às vezes, com o pênis projetado para fora mesmo não tendo nenhuma fêmea por perto. Por ser um osso, ele não é dobrável[3].

Entretanto nós, humanos, não possuímos esse osso[4]. O homem tem uma ereção devido a pressão sanguínea dentro do corpo cavernoso, um tecido esponjoso que infla quando recebe muito sangue. De forma geral, isso ocorre após estimulação do sistema nervoso parassimpático que dispara uma ordem para produção de óxido nítrico. Essa molécula faz com que os vasos sanguíneos relaxem, sobretudo as artérias, permitindo um maior fluxo de sangue por elas. A ação ocorre principalmente nas artérias que irrigam o pênis, ao mesmo tempo que mais sangue entra no corpo cavernoso, as veias que drenariam esse sangue ficam comprimidas, acumulando mais sangue no interior do pênis. É dessa forma que ele fica ereto, dispensando a participação de qualquer osso.

Isso pode soar um tanto curioso, já que o báculo aparece em diversos grupos mamíferos, mas outros não. Para os pesquisadores envolvidos com evolução, provavelmente o osso peniano é uma característica ancestral, ou seja, o organismo que levou a todos os mamíferos existentes hoje provavelmente tinha esse osso. Por pressão seletiva de diferentes formas, os mamíferos foram se adaptando ao meio (que levou a formação de todos os mamíferos que conhecemos). De quebra, alguns desses grupos animais acabaram perdendo esse osso. Cavalos, rinocerontes (ordem Perissodactyla), porcos, bois, girafas (ordem Artiodactyla), beleias e golfinhos (ordem Cetacea) e coelhos (ordem Lagomorpha) são alguns exemplos de animais (a lista é ampla, até) que não possuem báculo.

Báculo de um guaxinim.
Entretanto, os primatas (grupo em que nós estamos inseridos), apresentam báculo. Exceto nós, humanos[5]. Para complicar, os chimpanzés, nossos primos mais próximos na árvore evolutiva, possuem esse osso (um tanto reduzido, beirando os dois centímetros, em média), indicando que nosso ancestral o possuía.

Agora vem la grande question: por que o humano não tem mais báculo?

Algumas interessantes hipóteses surgiram para tentar explicar essa ausência. Uma hipótese, inclusive, envolve até a bíblia.

Mas comecemos pelo lado mais científico: por sermos monogâmicos (um casal ao longo da vida), o macho acompanha a fêmea por longos períodos de tempo afim de garantir que a prole seja realmente seus filhos. A fêmea, por sua vez se torna mais receptiva para encontros de curta duração com esse mesmo macho, o que faz a relação entre eles ocorrer com maior frequência. Já outros primatas que possuem báculo tendem a não ser monogâmicos, ou seja, o macho acompanha a fêmea por um período muito curto de tempo, geralmente investindo em uma relação sexual longa, o qual o báculo permitiria fazê-lo sem problemas.

Como nossa espécie não exibe um cio evidente (a mulher tem uma ovulação oculta), o macho não saberia quando ela estaria apta a ter filhos. Por isso, muitas investidas na mesma fêmea rápidas surtiriam melhor efeito que uma única investida longa. Com isso, ter o pênis sempre ereto (por causa do báculo), não seria uma vantagem em uma sociedade monogâmica, pois até mesmo levantaria dúvidas entre as fêmeas.

Provavelmente as fêmeas que levaram até o homem atual selecionaram os homens que, por mutação, não desenvolveram o osso peniano, mas tinham ereção provocada pelo fluxo sanguíneo. E isso chegou até o homem atual.

Obviamente a fêmea não escolhia o macho observando esse detalhe (ausência ou presença de osso) mas provavelmente via no macho que podia ter uma ereção no momento certo como um sinal de saúde e boa performance sexual. Animais doentes tendem a não ter relações sexuais saudáveis e isso seria um bom indicativo que foi sendo, aos poucos, sendo selecionado.

Mas existe outra hipótese, que considerei muito interessante por seu poder de se encaixar nas coisas pré-existentes, mas que não agradou ninguém algumas pessoas: o báculo seria a "costela" retirada de Adão por Deus para formar Eva.

Essa ideia existe alguns anos por entre os estudiosos da Bíblia, mas ganhou força no finzinho de dezembro de 2015, quando saiu um texto de Ziony Zevit no 'Biblical Archaeology Review' dizendo que a costela que foi removida de Adão para fazer Eva não passa de um erro de tradução. Para ele, a palavra 'tsela' não significa costela, mas um membro que se expõe para fora do corpo. Para ele, a bíblia estaria se referindo ao pênis.

E, para ele, a ideia faz muito sentido, já que o osso do pênis não existe no homem e, em geral, homens e mulheres possuem o mesmo número de costelas[6]. Ou seja, Deus tirou a "costela" do homem e fez a mulher.

Embora a ideia dele faça sentido, o grande problema é que devemos aceitar muitas premissas para que ela se encaixe. Para início de conversa, é preciso aceitar que a mulher veio de alguma coisa do homem para discutir a possibilidade de vir de uma costela ou do báculo.

Cientificamente não há associação entre esses eventos. Ele gira apenas no contexto religioso e isso foge do escopo desse blog. Apenas acredito que a bíblia não irá mudar por conta disso: ainda mais em substituir a origem da mulher da costela por... enfim...

Para a ciência, um assunto pode ser até um pouco incômodo, mas ainda assim é interessante falar sobre ele.

Rodapé:
[1]: Querendo ou não, assuntos relacionados com o sexo são sempre muito chamativos. Para se ter uma ideia, em 2012, 30% de todo o tráfego de dados na internet era apenas pornografia. Os grandes sites de acesso a esse tipo de conteúdo registram quase 1Tbps de informação sendo trafegada em seus servidores em horários de pico. Isso equivale a um tráfego de dados de mais de 200 DVDs (4,7Gb) por segundo saindo de seus servidores e alcançando o mundo todo. É muita coisa.

[2]: o báculo também pode ser chamado de os penis (é mais usado na língua inglesa, e não se trata de um plural).

[3]: além disso, esse ossos, em diversos animais, possui um sulco, uma espécie de 'canaleta' por onde repousa a uretra. Muito desses animais não forçam a expulsão do esperma (que chamamos de ejaculação), simplesmente a deixam escorrer pela uretra e sair para o meio externo.

[4]: as fêmeas também possuem um osso homólogo, o baubellum (não sei qual seria o correspondente em português), também chamado de os clitoridis.

[5]: macacos-aranha, um grupo de primatas do Novo Mundo (encontrados no Brasil, por exemplo)também não possuem osso peniano. Outra curiosidade é que a fêmea possui um clitóris muito desenvolvido, sendo até mesmo chamado de pseudo-pênis, já que a uretra acaba se projetando a partir desse clitóris. Tanto é que uma forma de identificação é pelo escroto, presente apenas nos machos.

[6]: curiosamente, algumas mulheres parecem ter uma costela a mais, o que seria uma coincidência incrível. A média seria de 1 a cada 200 a 500 pessoas, geralmente em mulheres.

Informações por Tecnoblog, O Globo e Evolucionismo.

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