Andorinhões quebram recorde ao voar por 10 meses sem pousar

Essas aves gastam a maior parte de suas vidas com as asas abertas.

Por Ramin Skibba para a Nature.
Traduzido por Wesley Santos para o Do Nano ao Macro.


Alguns andorinhões gastam 10 meses voando sem nenhuma pausa durante esse tempo, batendo um recorde de voo que invejaria Amelia Earhart[1] e Charles Lindbergh[2]. Pesquisadores reportaram esses longos voos, que ocorrem durante a migração dessas aves entre a Escandinávia e a África central, em um artigo publicado dia 27 de outubro de 2016 no periódico Current Biology.

Ornitólogos e observadores de pássaros especularam sobre as proezas da longa distância dos andorinhões comuns (Apus apus) desde a década de 1960. Pessoas viam esses pássaros encherem os céus da Libéria, por exemplo, mas não encontravam nenhum ninho ou espaço para repouso para esses pássaros pousarem.

Os cientistas usaram tags que possuíam pequenos registradores de dados e acelerômetro que eram presos nessas aves de 40 gramas para registrara suas rotas e atividade de voo durante sua jornada anual. O grupo de pesquisadores acompanharam 13 aves individualmente, alguns por várias estações, começando e terminando seus criadouros na Suécia.

Os pesquisadores viram que algumas aves fazem um breve pouso noturno durante o inverno, mas permanecem 99% do tempo no ar. Três aves que eles acompanharam não pousaram em nenhum momento durante 10 meses.

“Esses voos de longa duração confirmam aquilo que todo mundo suspeitava”, disse Felix Liechti, do Instituto de Ornitologia Suiço em Sempach.

Outro estudo que acompanhou a rota migratória
de andorinhões que partiram da Inglaterra.
Feito para ir longe
Outros pássaros podem ficar voando por longos períodos de tempo. Os andorinhões alpinos (Tachymarptis melba) voa sem parar por meio ano durante a migração. E a fragata-grande (Fragata minor) que sai da costa do Equadoe e voa por dois meses sem pousar para forragear alimento no oceano. Esses pássaros podem até mesmo dormir enquanto voam. Mas os andorinhões estão em grupo próprio.

“Os andorinhões evoluíram para serem excelentes voadores, com o corpo aerodinâmico e asas longas e estreitas, o que gera uma força de sustentação de baixo custo energético”, disse Anders Hedenströn, biólogo da Universidade de Lund na Suécia e co-autor do trabalho. Essas aves podem até mesmo comer enquanto voam, capturando aleluias[3], aranhas em voo[4] e outros insetos voadores.

Hedenström disse também que os andorinhões estão adaptados a um estilo de vida de baixa energia, mas o grupo ainda não soube responder se essas aves dormem enquanto estão nos céus. “Muitos animais sofrem bem menos a perda de sono”, disse Niels Rattenborg, neurobiólogo do Instituto Max Planck para Ornitologia em Seewiesen, Alemanha. “Mas essas aves devem ter encontrado algum truque através da evolução que lhes permitiram sobreviver com muito menos sono”.

E se não fosse a evolução dos dispositivos de rastreamento, os segredos dessas pequenas aves poderiam permanecem em completo mistério. “Como a tecnologia continua a diminuir em tamanho, está permitindo usar em espécies cada vez menores e revelando mais sobre essas proezas migratórios fascinantes”, disse Bill Deluca, ecologista da Universidade de Massachusetts.

Veja a matéria no original.

* * *

Uma coisa que não havia me atentado enquanto lia o texto mas que um usuário comentou no site da Nature é “ok, eles comem durante o voo, mas e para beber?”. Ramin Skibba, autor da matéria, “acredita que eles bebam a água que condensa em suas asas, sobretudo quando voam pela Libéria”. Embora ele não cite de onde tirou, a ideia faz sentido, visto que muitos animais de deserto obtém a água ao se acumular no corpo. Talvez algum ornitólogo ou outro especialista em vida selvagem pode elucidar essa questão para nós.

Afinal de contas, são dez meses voando... mais de 7 mil quilômetros. Não é para qualquer um...

Rodapé (notas de tradução):
[1]: a americana Amelia M. Earhart foi a primeira mulher a voar sozinha sobre o oceano Atlântico e foi uma defensora dos direitos femininos. Ela desapareceu ao tentar voar ao redor do mundo em 1937 e nunca fora encontrada. Tentativas realizadas por décadas nunca chegaram a um consenso sobre o que ocorreu quando ela estava sobrevoando o Pacífico.

[2]: outro americano, Charles A. Lindbergh, foi um famoso piloto ao voar sem paradas entre EUA e França em 1927.

[3]: as aleluias são a forma alada dos cupins, que saem em revoadas para a colonização de novos ambientes. Também podem ser chamados de cupins voadores, ararás e tantos outros nomes pelo Brasil.

[4]: sim, algumas espécies de aranhas voam. Na realidade elas se dispersam ao sabor dos ventos ao criar uma rede com seus fios de tecer a teia, que acabam sendo levados pelo vento como balões (daí o nome em inglês, ballooning spiders). Elas podem ser levadas de uma árvore a outra ou até mesmo a grandes distâncias em áreas abertas.

Imagem que abre a postagem por Oxford Today e o mapa por British Trust for Ornithology.

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